Vice (2018, Adam Mckay)

“Obrigado Satã por me dar inspiração para esse papel”

Jota Gaivota
Enfim Cinema
3 min readJul 16, 2019

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Esta crítica foi publicada originalmente no SuperZoom, confira aqui.

Este ano são 5 cinebiografias indicadas a Melhor Filme: Bohemian Rhapsody, A Favorita, Green Book, Infiltrado na Klan e Vice. Este ultimo dirigido por Adam McKay, que já ganhou Prêmio de Melhor Roteiro Adaptado em 2016 por A Grande Aposta. Cito este pois suas ferramentas narrativas são reutilizadas aqui. Não é falta de criatividade, pelo contrário. Mckay utiliza de memes, metáforas e narração para ilustrar temas complexos, e por vezes massantes, ao expectador menos engajado. Há mais refino em sua técnica como no caso de seu narrador, Kurt. Ele é utilizado não somente para explicar a trama como fazer um contraponto com a vida de um cidadão comum. Alguém que é cotidianamente afetado pelas artimanhas do protagonista.

O foco da imprensa tem sido na transformação de Christian Bale em Cheney. Ele engordou 18 kg numa dieta a base de arroz e ovo além da aplicação de algumas próteses. Muito diferente da abordagem de Gary Oldman em O Destino de uma Nação (2018, Joe Wright) que utilizou um fat suit, uma roupa com enchimento para interpretar alguém gordo. É possível averiguar a versatilidade do ator em interpretar vários estágios da vida de sua personagem.

De jovem estagiário entusiasmado até um senhor corpulento de fala grossa. Seus trejeitos hipnotizam. Aliás a entrega é característica das personagens principais. Amy Adams é a decidida Lynne Cheney, uma mulher limitada apenas pela época em que vive. A sociedade conservadora que defende não admite mulheres em posição de poder, apesar de posteriormente ter sido eleita senadora. Ela é a força que move Dick de zero a esquerda à vice.

O que justifica uma obra sobre um cargo de expectativa, alguém que ‘senta e espera o presidente morrer’? O Brasil recente sabe bem que, em relação a ocupação dos vices, ‘cabeça vazia é oficina do diabo’. Muito antes do golpe dado ‘com o supremo e com tudo’, Dick Cheney orquestrava uma tomada de poder pelos conservadores.

Seu objetivo era simples: ‘mostrar ao mundo o verdadeiro poder da presidência americana’. A Teoria do Executivo Unitário defende que uma ação tomada pelo presidente, eleito democraticamente, só pode ser legal. Essa interpretação da lei concede poderes ditatoriais, e estes pareceres jurídicos ainda estão disponíveis para uso de qualquer presidente.

“Os meios justificam os fins” é como o diretor Adam McKay define a relevância da cinebiografia que trata do vice-presidente. O diretor aqui explica a influencia de alguém quase desconhecido da maioria dos americanos no onze de setembro, guerra ao terror e em suas implicações como tortura, sequestro e assassinato.

Acho fascinante o uso de grupos focais, uma tática da Publicidade e Propaganda para vender produtos, na manipulação da opinião pública. De ‘aquecimento global’ passamos a ‘mudança climática’, de guerra contra a ‘Al-Qaeda’ passam à invasão ao Afeganistão. Porém o verdadeiro alvo é o Iraque e suas fartas reservas de petróleo e é graças a uma única conexão, não verificada, que o governo americano consegue invadir a soberania do país em 2003.

A mesmíssima estratégia utilizada agora contra a Venezuela. “Obrigado, Satanás, por me dar inspiração para interpretar esse papel”, disse Christian Bale acertadamente ao receber o Globo de Ouro.

Nota: 9

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