Antes, falemos de antecedentes

Uma breve introdução de como foi começar a jogar RPG hoje em dia, ou quase

luiz buscariolli
Engrenagens
Published in
6 min readFeb 13, 2020

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Photo by Alex Chambers on Unsplash

Em 2013 (há quase 7 anos atrás) eu ganhei de aniversário a famigerada caixa vermelha da tão polarizadora edição 4.0 de Dungeons & Dragons. Não demorou muito pra dali sair a fagulha de mesas e mesas de RPG. Bem, na verdade demorou sim.

Eu não comecei a jogar RPG por causa de algum irmão mais velho ou primo, nem por causa de algum amigo. Eu tava numa fase em que eu queria conseguir uma identidade, queria pertencer à alguma tribo (coisa que hoje em dia já acho datada e sem sentido), e ser nerd tava começando a ser algo legal e eu queria ser nerd, então só tinha uma coisa a fazer: seguir meu único termômetro do que era ser nerd — The Big Bang Theory.

Eu lembro até hoje da primeira vez em que assisti o 11º episódio da 6ª temporada da série, “The Santa Simulation”, o especial de natal da temporada: Uma partida de RPG natalina, com direito a alguns puzzles no mínimo interessantes:

Cara, essas Laugh Tracks envelheceram muito mal

Mesmo que não seja a representação mais verossímil ou clara de uma partida de D&D, eu delirava pelo o que eu via, parecia ser a coisa mais incrível do mundo.

Afinal era.

Pra onde ir?

Essa era a questão, eu já tinha decidido que queria experimentar aquilo, mas não fazia ideia do que fazer. Tentei o boca-boca, muita gente que conhecia alguém que achava que sabia sobre, mas na real 98% era só uns jogadores de magic que sabiam algo sobre mas nunca tinham se engajado no rolê de fato.

Outra coisa importante de se falar: piracy wasn’t a thing for me.

Sem entrar no debate sobre o que a pirataria em RPG representa, se ela é um instrumento de “democratização de conteúdo” ou qualquer coisa do gênero ou se é algo positivo, de alguma forma. Eu consumi conteúdo de RPG de forma ilegal por muito tempo e isso sim me ajudou a me engajar no hobbie, mas não é, de forma alguma, bom para a comunidade num geral. É ilícito, é errado. Hoje em dia adquiri cópias originais dos livros que usei de forma indevida por muito tempo. Sempre bom relembrar que pirataria é crime e propriedade intelectual existe. Mas isso é um assunto pra outra hora.

Enfim, voltando a minha saga, acabei revirando muitos sites na internet, até que finalmente encontrei um lugar — Kingdom Comics.

A fachada da finada loja

Uma loja na maior pegada de local game store gringa, localizada no Conic – para aqueles que não são de Brasília, o Conic é um centro comercial que reúne desde estúdios de piercing e tatuagens, local pra aulas de teatro, lojas de camiseta de rock, lojas de equipamentos de skate, um cinema adulto e uma igreja evangélica, além de algumas outras coisa, enfim, um local no mínimo diverso – e bem tranquilo contanto que você não fosse lá a noite.

Ela fechou uns anos atrás, o que sinceramente me deixa meio bolado, não comprei lá mais de três vezes acho, mas é uma mistura de nostalgia e o que ela representava que me deixa meio melancólico.

Enfim, vi onde era e fui lá com meu velho – sem chances de ir ao Conic sozinho – e lembro de chegar no cara do balcão e falar “e aí cara, quero comprar D&D” e ele me falar “pô bicho, tá em falta, mas tenho esse RPG aqui” e era uma caixa numa pegada medieval meio tower defense com os desenhos chibi – não sei qual era o nome, se alguém souber do que se trata me avisa.

Eu fiquei olhando um pouco e falei pro meu pai “eh, acho que pode ser”, ele me deu olhada e falou “se é pra comprar é melhor comprar o certo, não gastar dinheiro com isso aí pra ficar largado”. Não sei sobre a qualidade do produto em questão, mas ele tinha razão. Comprei uns imãs de geladeira legais lá e a gente foi embora.

Isso era algo entre fevereiro e abril, acabei dando uma esfriada na ideia já que não tinha tido sucesso nas minhas tentativas e fui seguindo.

Até que veio o dia 22 de maio de 2013 e, como presente de aniversário, ganhei a tão esperada caixa vermelha e meu primeiro set de dados (faltava um d4 que só fui conseguir um tempo depois na verdade). Agora vamos à alguns pontos que acho que são chave como elementos mais relacionados à RPG em si e menos minha narrativa pessoal.

A quantidade de regras é algo realmente difícil de se pegar quando você tá começando no hobbie, especialmente sem alguém experiente lá pra te dar o caminho das pedras. Outro dia eu tava tendo meu primeiro contato com Starfinder, tentando criar um personagem, e eu tava relembrando disso. Os livros não são acessíveis e claros o suficiente pra quem tá começando — e às vezes nem pra quem é experiente, e de certa forma tudo bem, faz parte.

Somado a isso, nunca entendi a lógica dos starters sets de D&D. Pra mim o Essentials Kit que foi lançado ano passado pra 5E é tudo que eles sempre deveriam ter sido: um compilado rápido de como criar personagens, aventuras prontas curtinhas, um escudo, dados, cards com regras e tudo mais — não fichas prontas, “aventuras” no estilo de livro jogo e um monte de card de poder, como era a 4.0.

Uma pessoa fundamental pra eu não ter desistido do hobbie — na verdade duas — foram o Roxo e o Pedrok do Formação Fireball. Com aqueles vídeos do então nascente basic attack — que essencialmente tá aí até hoje — foi o que me fez entender como as coisas tinham que andar e até hoje quando falam de Waterdeep me veem na mente algumas piadinhas como o “Tem coliseus em Waterdeep?”, uma das piadas do vídeo de criação de personagens que eles fizeram e que perdi as contas de quantas vezes vi, e que sempre que me vem à mente me dá uma pequena sensação mista de satisfação e gratidão.

Uma outra coisa interessante é pensar no processo de como foi a abordagem do RPG de mesa comigo. Eu comecei a jogar em uma fase que os RPGs de mesa tavam sofrendo a influência dos Videogames de RPG e dos MMO que sofreram a influência dos RPGs originais, na época em que você não precisava falar que eram de mesa.

Isso trouxe várias situações curiosas, como uma situação que foi extremamente frustrante quando descobrimos, um bom tempo atrás, que a experiência não zerava quando você subia de nível em D&D 5E — tal qual aconteceria na maioria dos videogames.

É bem louco tu pensar como esse é um rolê que se retroalimenta, acho que qualquer hora escrevo algo mais focado nisso.

Mas o tempo foi passando e da 4.0 fomos pra GURPS e de GURPS acabamos encontrando a 5e (também chamada de 5.e por força do hábito), essa nova versão muito mais amigável pra quem tava começando a jogar.

E daí entrou uma diversidade maior de sistemas, de Storyteller a Fate, de Star Wars Saga a Deadlands Reloaded, passando por tantos e tantos outros sistemas que vieram e foram, mas aí já é história.

Enfim, acho que o que eu tenho a dizer é: sempre ajudem os players novos, por mais que tenha muito mais conteúdo hoje, 7 anos depois, ainda é muito intimidador começar.

Ah, e não sejam que nem as pessoas de uns grupos no Face que quando o a pessoa chega perguntando algo só responde “tá no livro, olha o livro” — isso é coisa de otário, se a pessoa tá perguntando é por não ter entendido.

E você? Como cê começou? Me conta aí

Muito obrigado pela leitura, meu nome é Luiz Buscariolli mas fique à vontade para me chamar de Busca. Comecei no RPG em 2013 e desde então fui entendendo e me apaixonando cada vez mais pelo hobbie. Se quiser me seguir por aí é só procurar por @luizbusca nas outras redes sociais e se quiser conferir esse texto em áudio, ele estará disponível em breve no Anchor e nas demais plataformas de podcast, como iTunes e Spotify. Até lá!

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luiz buscariolli
Engrenagens

Paulistano de Brasília que curte design de jogo, gráfico e política. Graphic Design @ IESB.