À noite, vamos buscar um norte?

Léo Borges
Ensaios sobre a loucura
2 min readApr 11, 2020
Waldyr Neto

Meu estado era mesmo crítico

Acometido por certo ceticismo

Tido como crônico, sem nenhum antecedente clínico

.

Sentindo a fantasia

De um conforto cínico

O diagnóstico logo tratou de confirmar, saudade em demasia

.

De tudo, dos planos

Dos desvarios plenos

E me trouxeram expectativas, propondo curas sem enganos

.

Mas só teus lábios me eram críveis

Só teus seios me davam esperança

Apenas teus sussurros jogariam luz sobre alegrias invisíveis

.

À noite, vamos buscar um norte?

Abandonar essas estrelas inertes?

Acreditar que o alívio que teu olhar traz é o melhor transporte?

.

Chega dessas dores sem lastro

De sermos maestros de velhos receios

Vamos hastear amores, ainda que haja feridas em nosso mastro

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Parar de contar as cicatrizes

Conter lágrimas, atar sorrisos

Solucionar os medos surrados, até trocá-los por tempos felizes

.

Teu ser me conduziu à cura

Sim, uma paixão à minha alma

Carinho intravenoso que drenou o medo e ministrou candura

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Sua saliva dispersou a azia

Agiu como delírios no sangue

Espécie de lírios colorindo a vida, mantendo viva aquela poesia

.

O que era sério, deixou de ser

O que era esmero, assim continuou

Disseram ser mero acaso, mas eu sempre soube que havia você

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O veneno, enfim, evaporou

O que era cancro, não resistiu

E o que nos caçava, por fim, cedeu, uma febre que não mais queimou

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