é pra você
dizem que todo poeta carrega o fantasma de alguém.
dizem, até, que escreve as lágrimas com destinatário convicto de redenção
no teu sítio iluminado, com galinhas e porcos, tão simples e distante daqui,
imagino você sentado e contemplando a paz de estar só e em paz
mas confesso que tenho te desenhado com traços tristes e grosseiros
em um conjunto infinito de cores entre o branco e cinza
quais são os limites entre branco e cinza?
tenho forçado uma centena deles na tua pintura
ai que dó de mim que sinto agora que me dei conta disso
é tão vergonhoso sentir pena de si próprio
e tudo piora quando se percebe que o único jeito da vergonha passar é a sentindo
é preciso sentir a dor de tamanha vergonha para poder aceitá-la e então se acostumar
então, vergonha implica em sentir dor e por isso não gostamos de tal sentimento?
ai, pai! eu te amo, sabe?
a gente é isso
e confesso que não sei muito o que é “isso” que a gente é
mas a gente é
valeu por ser comigo por tanto tempo
de forma tão cúmplice e fiel