9 microcontos
colônia
Na última casa da Colônia o porco derrubara a porta, os surpreendendo; não antes de acertarem com bala o bicho. Buscaram tanto que acharam livro de São Cipriano entre as roupas do padre, este, surgiu de carranca arregalada e corpo varado de tiro no curral do prefeito.
Tinha a blusa do lado avesso.
espada
O Doutor Alquirdes era todo trabalhado na finesse, mas não podia beber um ai que o homem expelia seus estoques de anedotas e anáforas. Dedo em riste, dizia:
— A Espada da Justiça é digna! Mira nos poderosos e acerta no reto do povo.
braça
A lonjura era medonha. Época de grandes águas só se ia de um lugar a outro de barco. Mas menino é bicho teimoso, e eu nem sei quantas braças de rio ele bebeu.
costureira
Nunca estamos sozinhos, disso sabia. No entanto, a solidão muda do sono intranquilo destoava de um passado próximo, quando embalado pelo barulho da costureira em seu ofício.
É que os pensamentos são silenciosos, mas destroçam mais do que ruídos de máquinas.
cinta
“Eu cinto muito”, mas está errado, Maria, tem que ser com s de sentir.
— Não, professora, é licença poética. A senhora nunca viu não? O sentimento que dói como uma surra de cinta da mãe!
— Continua o contrário de certo, isso é uma redação.
Maria então decretou:
— Pois a senhora é uma intelijumenta!
árvore
Sentou-se sob a frondosa criatura e orou pela Mãe Terra. Tentaram avisar do bicho fatal mas a vítima interrompia dizendo: “é a natureza!”. Morta, a alma se manifestou em vão: a moda da árvore havia passado.
governo
Após as verificações banais e as sondas dolorosas, nem se incomodou tanto assim com a abdução. Afinal, não precisaria se preocupar mais com o governo dos homens e de Deus. Inclusive, podia jurar ter visto um símbolo anarquista no lustre espacial antes de adormecer completamente.
aventura
Nem as saidinhas noturnas pela Beira-Mar o impediu de chocar-se na exposição de arte. “Aventura tem limites!”.
flauta
Esteve procurando em toda parte a sensação daqueles tempos de café com cuscuz, flautas banais e zoológico. Quem diria, acharia tudo isso de novo por causa da doença. Felicidade não teve, sim a impaciência de seus filhos, que já não brincavam mais de tocar a asa branca no instrumento de plástico.
