A Composição da Fruta

Täkwila
Ensaios sobre a loucura
2 min readJul 16, 2022

Gosto do gosto da tua poupa na minha boca. Sabor de tecido de fábrica, especiaria fina. Alimento que se consome aos poucos, de rigor e bom garbo, saboreando toda textura de aroma, admirando o ponto do fogo e da luz.

Doçura desnuda até gosto agudo nas vezes que tua carne deixa a boca. Algo como paladar de fome. Tem quem faça querer estar perto ser por dentro.
É distância que cria o gosto do tempero raro.

Graciosidade expansiva feito céu azul, isso e tanto mais. Coisa que coração pega, senso perde. Tento abraçar tudo por inteiro, mas alguma coisa cai ao chão. Um bocado largado em nossa sala.

Teus lábios nunca perderam a cor dos meus olhos. Te guardo na boca feito palavra boa. Dialeto lascivo, de abundante saliva. Também palavreado tenro e mais terno, repleto de silêncio e pausa, quando calor do ar das gargantas conduz fio que nos ata sangue e coração. A partir dali toda falta tem potencial de matar.

Trago tua fruta favorita debaixo do palato. Fruta de selar envelope. Flagelo do prazer e castigo. Ambiguidade na palavra danada. Trago a bênção, a fatalidade da água. Lugar que só quem entra é que conhece. O que pratica o mergulho e quem sofre afogamento.

Dou a admitir que te quero, não de que preciso. Pois vital é saciar da natureza, apartar do graduado ao vício. Mas tu não cabe mais em meu estômago. Hoje a fome é maior que a barriga.

Espanta como a carne é capaz de corromper uma cabeça sadia. Não sei dizer se por acaso de fraqueza ou coragem. Coragem é parte impulso, outra determinação. Interseção entre imprudência e a própria convicção. Pois pra ter coragem é preciso crença no porvir. Senão se trata só de abandono de si. Toda coragem é pelo outro.

Isso que te digo são coisas de carne e de boca. Tudo bobagem. É coisa que mata, nada que valha a pena morrer.

Quisera que fosse coisa mais sóbria. De agir espontâneo. Me deixei amargar por falta de luz do dia. Vi que verde vivo também vira escuridão à noite.

Por isso prefiro morrer de fome a viver de desgosto.

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