A coragem do louva-a-deus

Sim, ele tem medo, e o medo o paralisa. Escuta as risadas de seus ancestrais ecoando atrás dos ouvidos, rindo por terem morrido com as cabeças ainda nos ombros. O fantasma do pai grita com ele. Mas o pai não é pai, disse com essas palavras: “Não sou teu pai.” O pai fugiu, disse: “Vou embora com minha namorada, não é pra chorar.” E ele não chorou. O pai fugiu e ele não chorou, não pelo pai. Chorou quando quis chorar, dançou quando quis dançar, cruzou as pernas quando as quis cruzar e agora estava ali, o louva-a-deus após o amor, frente à louva-a-deusa após o amor. Seus ancestrais todos o ensinaram que esse era o momento da fuga, e com a fuga eles todos conviveram. Tem medo, sim, o amor dá medo, e o medo nos faz fugir. Pensa na sua cabeça, no antes e no depois do amor. Respira fundo, relaxa os ombros, e se deixa ser devorado.

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