A Flor Quieta.

Wellington M.
Ensaios sobre a loucura
2 min readMar 8, 2022
Marcel Caram, “A Dança das Rosas”.

antes eu te vi ali,
no canto.
presa naquele lá de trás,
o vulto.
o ralo do teu futuro,
este,
que não é ralo:
é espiral centrífuga.
que ao final, se-voa, voa-se.
se solta.
e a espiral fica
como uma lembrança do embalo.

aos pouco você não se vê,
não se toma.
nem como breve,
nem como depressiva,
nem como pouca.
só goza enquanto voa,
em uma nudez sem pudor,
pois sua velocidade lhe permite:
ficar nua nas multidões,
pois brilha que nem o sol,
escondendo seu detalhe,
em sua forma que é raio,
rapidez,
vulto,
volúpia.

vi-me ali, embaixo de ti.
agora,
vendo seu voo de uma maneira nova:
não em mim, mas lá,
lá longe de mim,
um voo teu,
que só o teu pode levar.

talvez agora, de longe,
posso lhe dedicar um amor bem puro,
desses que não se encosta, e nem se enseba com pressas.
uma admiração lúcida, sem estar presa ao interesse de meu corpo,
um olhar claro,
assimétrico e de lonjura,
e posso sussurrar silenciosamente, um
“te amo” sem te condenar,
e sem o compromisso do meu olhar.

e é nessa quietude,
que o “te amo”,
vai desabrochar em “te amei”.
tão quieto como um silêncio,
tão breve,
como se não houvesse existido,
tão calmo,
quanto o breve ondular de uma única onda.

esse será meu último e quieto suspiro:
a conclusão silenciosa,
de um inacabamento.

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