A labuta
Tenho pequenos ápices de felicidade que são rapidamente banhados
por uma enxurrada de realidade
que escorre gélida costas à fora
deixando ainda mais desconfortável
minha coluna já gasta pela escoliose.
São ligeiros súbitos de liberdade
que são furiosamente mastigados
e engolidos por dezenas de leões famintos e desesperados
para sentir o gosto de minha lucidez
percorrer pelas presas
até às entranhas.
Momentos prazerosos
não chegam a durar um minuto
da eternidade que parece ser
uma troca de olhar
ou um abraço interrompido
por um corredor de zumbis vivos
igualmente atrasados
fazendo o que antes era minuto
não mais durar uma fração de segundo.
Não existem mais noites bem dormidas
pois o som do turbilhão da mente
entra em sinfonia com o trânsito de meio-dia
misturando gritos de agonia
e buzinas de automóveis
com a lataria amassada
e pneus com cheiro de borracha derretida.
O sol derrete meus olhos
e o abraço do vento
trazido pela Baía de Guanabara
é meu único alento
enquanto as pernas querem desistir de correr
e os ouvidos procuram pelo silêncio desconhecido.
Os dias se arrastam, o jantar vem logo em seguida do almoço que acabou de se encontrar com o café da manhã que mal terminou de acordar de suas três horas de sono profundo após o jantar.