A labuta

Yaisa, Ndaluuateme
Ensaios sobre a loucura
2 min readMar 20, 2020
Fille au bracelet, 1977 by Émilcar Simil (Haiti)

Tenho pequenos ápices de felicidade que são rapidamente banhados
por uma enxurrada de realidade
que escorre gélida costas à fora
deixando ainda mais desconfortável
minha coluna já gasta pela escoliose.
São ligeiros súbitos de liberdade
que são furiosamente mastigados
e engolidos por dezenas de leões famintos e desesperados
para sentir o gosto de minha lucidez
percorrer pelas presas
até às entranhas.
Momentos prazerosos
não chegam a durar um minuto
da eternidade que parece ser
uma troca de olhar
ou um abraço interrompido
por um corredor de zumbis vivos
igualmente atrasados
fazendo o que antes era minuto
não mais durar uma fração de segundo.
Não existem mais noites bem dormidas
pois o som do turbilhão da mente
entra em sinfonia com o trânsito de meio-dia
misturando gritos de agonia
e buzinas de automóveis
com a lataria amassada
e pneus com cheiro de borracha derretida.
O sol derrete meus olhos
e o abraço do vento
trazido pela Baía de Guanabara
é meu único alento
enquanto as pernas querem desistir de correr
e os ouvidos procuram pelo silêncio desconhecido.

Os dias se arrastam, o jantar vem logo em seguida do almoço que acabou de se encontrar com o café da manhã que mal terminou de acordar de suas três horas de sono profundo após o jantar.

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Yaisa, Ndaluuateme
Ensaios sobre a loucura

Fragmento de lava que surgiu no instante em que, em mim, o primeiro vulcão entrou em erupção. Minha poesia pode não ser muito fácil de engolir.