antes que o dia comece

caroline vital
Ensaios sobre a loucura
2 min readJul 17, 2020

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Ouça o silêncio barulhento que diz muito sobre nós. Olhe ao redor, repare bem. Está tudo (quase) calmo e sua impaciência escapa pelos poros, tão sonora quanto os carros que agora começam a passar. Sua agitação te permite notar? Por que exasperar-se tanto por não estar lá fora quando tudo o que seu ser precisa é de pequenas doses de paz?

Você é seu lar, e essa casa está — há muito — uma grande bagunça. Nunca há tempo para consertar as rachaduras ou mesmo jogar algumas velharias fora. Ignorar e deixar para depois é sua especialidade, eu bem sei, nem mesmo os vizinhos notam, pois a fachada continua impecável. O que dirão quando ela desabar? Para alguém que se importa tanto com os outros, recolher os pedaços em frente a todos será ainda mais difícil.

Respire fundo e se demore apenas um pouco mais. O alarme soará em breve e ainda preciso instigar uma ou outra divagação, antes que seu constante estado de intranquilidade nos interrompa. A larva do desassossego fez de você hospedeiro, porém, aposto minhas fichas numa cura gradual pela calma.

Ouvi dizer que a paz vem de muitas formas, mas será que a tua vem mesmo pelo contínuo barulho e alvoroço existentes porta à fora? Talvez — apenas talvez — tantos ruídos externos só lhe servem para abafar quaisquer tentativas de parar e permitir-se lidar consigo mesmo. O silêncio te acalma ou te desespera? Se você quer tanto sair, algum dia conseguirá se escutar? É a introspecção, minha cara, que te salvará.

São seis horas, de acordo com o despertador. Mas o relógio está adiantado, então ocupe comigo os segundos extras restantes — antes que o dia realmente comece. Vamos lá fora tomar um chá; apreciar esse bom tempo. Lembro que o corretor disse que da varanda se avista o futuro e, com um pouco mais de sorte, talvez até o mar…

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