arte é dar a cara a tapa
hoje eu tive medo da morte, tive medo do futuro, tive medo do incerto. girei o anel no dedo como quem joga a angústia na fé — como quem se ancora no vazio. no devir. não digo isso de uma maneira ateia. digo com respeito e com verdade — ancorar-se na fé é admitir um certo vazio, é ancorar na existência de algo (ou alguém) que não se sabe ao certo o que (ou quem) é. hoje eu tive muito medo do futuro. tive medo do fracasso, das rugas, da solidão… tive medo de olhar nos olhos de quem amo, do abraço longo — aqueles que duram mais que trinta segundos — , tive medo do beijo de despedida e, sobretudo, tive medo da escrita. começou durante uma aula: uns escritos aqui, outros ali, ergui a cabeça para tentar acompanhar o tema — grupos — … fitei o papel e nada fazia sentido. senti meus olhos franzirem por si só, no automático. perdi? perdi meu talento? quanta palavra sem sentido junta; quanta desconexão nessas minhas letras! será que eu perdi mesmo o júbilo? quis queimar meu caderno, jogar meu notebook no chão, focar nas interações grupais sobre as quais a professora tanto falava. sabe o que é? é que a pressão corrói o corpo como ácido; é que ela também causa dor é úlcera. e a pressão é que nos compõe; é o que me compõe, é o que me inquieta, tira-me o sono. é o papo de coach que me toma a cabeça num monólogo sonso quando deito a cabeça no travesseiro: você consegue! é só querer! você é o seu pior inimigo! papo de coach que invade o pensamento como o parasita invade o corpo do hospedeiro, provocando diarreia. minha mente é minha gaiola, e se isso é verdade, só é porque a minha construção se dá perante a um socius. mas isso não é um artigo de graduação, não é um ensaio sobre o como nós somos moldados socialmente, não é uma contra-argumentação ao discurso pró-coach. isso é só um texto. sobre ter medo. e recear. temer. sobre futuro, morte, fé. eu tive medo de tudo! mas, olhando daqui, tudo me parece tão certo.
olhando daqui, eu até consigo ter fé.
