Asfixia

André Ulle
Ensaios sobre a loucura
1 min readSep 2, 2020
Ilustação: Colleen Tighe

Era tímido e não sabia muito bem se posicionar. Havia um buraco no peito, e já perdera a noção se o buraco era uma marca de nascença.

Era calado, e o buraco se fazia cada vez maior. Seu corpo escondia o choro, sua mente mutilava os nervos, as noites eram imensas e os dias dormentes. Sentia-se numa cela apertada, pressionava o peito contra as pernas, para caber naquele espaço infinito do qual não se sentia merecedor.

Um universo infinito é assustador, podemos cair no extremo do nosso oposto, e nosso afastamento é infinitamente expansível.

Conforme tudo se expande continuamente, eu me encolho, tornando interminavelmente menor, mas eu nunca consigo sumir de vez. Continuo encolhendo, e as dores são proporcionalmente maiores ao meu corpo que se torna minusculamente frágil. Percebo que mudei o pronome, mas isso não me torna perto, ainda sou longe, ainda me afasto.

O silêncio, desejo muito o silêncio. Quase cesso por completo minha respiração, meu peito mal se move, mas ainda não há silêncio.

Era silencioso e não sabia quem era, mas era, mesmo não querendo ser.

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André Ulle
Ensaios sobre a loucura

Escrevo para abraçar meus demônios e perdoar meus pecados