Babuínos

Ivan Nery Cardoso
Ensaios sobre a loucura
2 min readApr 12, 2021

Poucas semanas depois da Estação Espacial Internacional publicar as primeiras fotos dos primatas gigantes que agora orbitavam nosso planeta, e dos biólogos confirmarem que eram, de fato, babuínos, o susto global passou. A vida retornou à normalidade, agora com babuínos gigantes no céu, nos encarando com expressões indecifráveis. Dizem que as novas gerações têm dificuldade de imaginar um céu sem babuínos. Há até quem se esqueça que eles estão lá.

A cada cinco anos, mais ou menos, um dos babuínos espirra, causando tremores no planeta inteiro, acordando vulcões, desencadeando avalanches, tsunamis e, estranhamente, um aumento na popularidade de cultos suicidas. É nesses momentos que a maioria de nós se lembra da estranheza de ter babuínos flutuando sobre nossas cabeças. Alguém se vira para quem estiver ao seu lado e comenta: “quando é que vão fazer alguma coisa a respeito?”. Os jornais noturnos bradam sobre os babuínos, comentaristas dedicam suas colunas à interpretação de seus mínimos movimentos, soluções são cobradas de governos. Todos concordam que alguma coisa precisa ser feita, sim, claro, mas o quê? Ninguém sabe.

Eventualmente, todos acabam voltando para casa ou para o trabalho, prometem buscar uma solução e, no dia seguinte, pensam se é mesmo necessário fazer algo nesse instante, se não é melhor esperar mais um pouco. No final de semana já dividem espaço nos jornais com os sequestros e assaltos. Em uma semana já não se fala mais nisso.

Os babuínos, por sua vez, seguem em sua órbita perpétua. Às vezes mostram os dentes, ou piscam, ou lambem os beiços, não importa. Ninguém olha mais para eles. Mas eles permanecem lá em cima, nos olhando, ou olhando para algo que está muito perto de nós. Tão perto que não conseguimos enxergar.

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