Barbie Hetero

Danilo Ribeiro
Ensaios sobre a loucura
2 min readJul 6, 2018

- Capitão, você pode me trazer o outro? O italiano?

Era o quarto. Os dois primeiros não tinham o mesmo caimento. O terceiro não tinha na cor correta. Esse talvez se encaixasse no que ele estava procurando.

Olhei pra minha sacola. Nunca imaginei que comprar roupa era tão complicado. No meio do maior centro comercial da américa latina, o núcleo têxtil de todos os mulambeiros e sacoleiros do pais, lugar que era possível encontrar todo tipo de opções em cores e tamanhos para qualquer escala que que tivesse dinheiro para pagar. Eu só precisava de um par de meias e algumas cuecas. Mas meu primo precisava de uma nova armadura e eu era seu escudeiro da vez.

- Essa não vai dar, meu príncipe. — E pediu o quinto. Seja garçom ou o seja alfaiate, o filho mais velho da minha tia sempre tratava quem o atendia com os títulos mais elogiosos que o vocabulário vasto dele pudesse encontrar.

Parei pra prestar atenção aonde eu estava. Era um lugar que não deveria de estar ali. O beco diagonal dos executivos e diplomatas no meio do Brás. Um espaço que só aparecia pra quem sabia o que estava procurando. Uma loja de ternos e paletós, com seguranças armados na porta no meio do núcleo do maior centro de venda de roupas descartáveis. Entre os presentes naquela loja mágica, reconheci duas figuras que estavam na capa da Exame do mês anterior e o herdeiro de uma instituição multimilionária que já trabalhei. E na minha sacola tinha 3 meias que comprei a 10 reais.

Ele notou meu desconforto.

- Você lembra quando o Mu transformou as armaduras de bronze em prata depois que os Cavaleiros derrotaram o mestre do Santuário? Ou como qualquer protagonista de um anime troca de uniforme da segunda temporada? Melhor: quando a gente estava no meio de uma campanha de Dungeons & Dragons e você levou 2 dias pra decidir se usava aquela espada +2 ou mantinha a outra porque não combinava com o resto da sua armadura. Mais ou menos a mesma coisa.

O terno que finalmente gostou era igualzinho do John Wick, personagem de Keanu Reeves no filme de tiro, porrada e pancadaria honesta “De Volta ao Jogo”. Tanta atenção e cuidado. Praticamente uma Barbie hétero.

Mas enfim entendi. Ele acabara de ser promovido no escritório de advocacia altamente conceituado e seu salario havia dobrado e queria estar paramentando de maneira adequada no primeiro dia no novo cargo. Independente disso, a máxima se mantinha: Nenhum homem cresce de verdade: Só os brinquedos ficam mais caros. Neste caso era um terno.

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