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H.
Ensaios sobre a loucura
2 min readJun 25, 2018
do pinterest

sinto as partículas solares
reverberarem no cerne da minha carne
meu canto transcendental esconde
o que as próprias palavras significam.

sinto meu corpo virar-se como um girassol
perseguindo os raios luminosos
bifurcado, digerido
buscando um devir do qual não se há ciência
tamanha é a eloquência
da loucura inata.

o retorno da noite é seco
fere forte a ferida aberta
do amor que se foi e não volta
do ranço que se instaurou e não se toca
que tudo que preciso é da minha autopoiese contínua
e, a mim, eu mesma me basto.

a sinestesia dos meus sentidos se confluem
quando teu gosto é sentido no meu peito,
a sensação doce
(tal como um tiramisu)
que é te ter tão perto, mas tão ilusoriamente.
compulsoriamente…

a esquiva do teu signo é a mim inevitável:
amor livre é típico de sagitário, mas acho que não sou
tão livre quanto eu pensava ser
acho que a minha liberdade é limitada,
é coberta de neblina, com requintes de solipsismo,
maleável de acordo com meus sentimentos,
já que meu próprio signo é regido por Vênus

amanhã, a certeza que me assombra é a da vida
sendo jogada como uma partida de truco:
toda a imprevisibilidade da decisão é certeira e cruel;
a generalização de estímulos atuando como punição
a cada decisão que o meu eu toma errado para um outro eu
o qual, por sua vez, materializa-se nas cartas
e me cobre o juízo num nevoeiro, com um blefe bem-feito.
você comemora como se acabasse de vencer a copa,
ou como se cada ato fosse meticulosamente pensado
e você fizesse parte da máfia italiana
ou do FBI
ou da polícia federal.
agindo à espreita, sob a névoa cinza dos julgamentos,
do mesmo modo que age quando me tem e não se dá conta
do poder que suas decisões possuem.

os lápis traçam os segmentos finais
das linhas que realizam cortes
profundos sob a minha epiderme
elas buscam a minha carne
os meus músculos
e o fazem de maneira tão suave
que parecem estar ouvindo funk americano
vibrando a cada farfalhar da bateria incontida
buscando ascender a cada batida frenética
que conflui com o compasso do meu coração.
a paixão ludibriou as minhas razões
a desfazerem-se de mim enquanto mulher
e a reduzirem-me ao pó que compõe o asfalto.

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H.
Ensaios sobre a loucura

Um pouco mais que um grão de areia, um pouco menos que um cavalo.