Criou-lhe um novo eu.
Um inédito e bem sucedido
Que cintilava nos outros olhos,
Um cheio de orgulho e pose.
Era completo, achava ele.
Não tinha rachaduras nem defeitos,
E ai de quem tentasse encontrar um,
Ele se reinventou.
Mas se fez de um modo que não era ele mesmo,
Era uma máscara, uma casca sob seu verdadeiro eu.
A qual era composta de um orgulho tóxico.
Um desleixo,
Desleixo pessoal que um dia contaminaria sua superfície.
Aquela máscara impregnou-lhe no corpo,
De tal modo que sua verdadeira essência
Se perdeu, foi devorada, apagada, abafada.
Abafada como quando se põem fim ao fogo.
E então se convenceu que aquele novo eu
– que não lhe convinha quando sozinho –
Lhe faria feliz sempre.
Todos desejavam aquele eu dele;
Mal sabiam o preço daquilo.
Da constante necessidade de aprovação
E a falta de auto-aprovação que refletia no espelho toda manhã.
Tamanha insegurança…
Que até se refreava em pedir socorro.
Quebre esse espelho que não lhe reflete mais.
Quebre para reconstruí-lo.
Quantas vezes precisar.