E escorreu pelos dedos

H.
Ensaios sobre a loucura
2 min readDec 16, 2020
Por Richard Diebenkorn

Quando o amor era tudo que eu podia ter,
O amor era tudo que eu tinha.
Aquele tópico que me consumia;
O martelar no fundo da alma;
A certeza de que há alma;
E certeza de que o amor toca a alma.

Quando o amor era tudo que eu podia ter,
O amor era tudo que eu queria.
Sem ele, não havia poesia;
Sem ele, não havia nenhuma partícula;
Sem ele, não havia nenhuma lírica.

Quando o amor era tudo que eu podia ter,
Eu não o sentia.
Sequer amor era,
Correria,
Perdendo os cacos pelo mundo, sangue e sangria.

Por isso, não se ofenda, Leitor(a),
Quando não escrevo mais
Que Ela não é tal como escreveu Hilda,
Tal como me inspirou Clarice,
Tal como vi em versos de Alice.

Não se ofenda que eu não encha as palavras de amor,
Porque quando o amor era tudo que quando eu podia ter
Era a ausência
Porque quando eu me delongava em sentimento escrito
Era falta.

Não mais me martela a alma
Não mais se liquefaz nos dedos
O amor é o que eu tenho
Eu o trato com zelo.
O amor é o que eu tenho,
Transparece nos textos
Exala pelos cabelos
Colore os dedos.

O amor é —
— o que eu não mais imploro. Nem demando.
O amor é aquilo que eu emano.

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H.
Ensaios sobre a loucura

Um pouco mais que um grão de areia, um pouco menos que um cavalo.