Elegia do Crepúsculo
Era tarde, caía o sol do céu
Quando tu me chegaste inebriada
Retardatária e inútil, a quem o fel
Desde a aurora amargou em disparada
Os anos meus de angústia indigente
E somente agora, simplesmente
No fim dos anos vens, oh inclemente
Imperdoável mora, pra quem sente!
Guarda tu que na aurora ainda raias
E às nove horas não se pôs relógio
O seu ponteiro. Corres e vai às
Profundezas da terra e do ócio
Te afundes, tortures, mas a aches
Pegue-a bem no laço antes das nove
Enquanto a cútis lisa e o vigor de Aquiles
Que na manhã que é jovial te move
E a noite é só promessa e não tem lastro
Porque a sua vinda é inevitável
Segure-a bem e guarde num bom claustro
Bebas de sua fonte inesgotável
Até que a tarde ponha a sombra sobre
E digas tu que o dia é bom, o exalta
E a noite abraces sem remorso e nobre
Cante aos céus a vida que lhe falta
Porque a chama a ti fartou sobeja
Não a negligencie. Beba-a toda
Naufrague nela, a tome de bandeja
Depois de encontrada use-a morde
Devore até a casca que sobrar
Que a sobra podre traz mui sofrimento
Não o permitas, nem que falte o ar
Té a última gota e serás bento.
Felicidade é boa quando presta
Em tempo e espaços certos é chegada
Não deixes escapar por uma fresta
Porque sem ela, tudo será nada.