Eu, oca

Alice
Ensaios sobre a loucura
2 min readFeb 20, 2020

Você é o oco do oco do sem fim do mundo.
Geralmente eu canto essa música da Bethânia pros desamores e desafetos que a vida ousa trazer pra mim. Não são muitos, graças a deus. Mas existem.
Indigesto é quando o desafeto anda sendo você mesmo. Isso não acontecia há tempos. Por mais lutas internas que eu travasse, eu tinha sempre um espaço pra ser orgulhosa ou paciente comigo mesma.
Não sei em quem colocar a culpa: é o ano novo astrológico que está prestes a começar, e ainda no embalo esotérico, meu inferno astral que se inaugurou junto com o Sol em peixes? Seria a volta ao trabalho depois das férias que me deixa tão motivada quanto um... Ãaaa... Indivíduo prestes a voltar pro trabalho? Seria o maravilhoso advento da pílula do dia seguinte que eu tomei semana passada, bagunçando todo o meu complexo de células e órgãos reprodutores e a porra dos meus hormônios???? Seria o fato de que me encontro em constante crise em todos ou quase todos os aspectos da minha vida desde que fiz 20 anos, mas como toda crise é tão diferente, cada uma evoca uma sorte de conjecturas tão peculiares quanto revoltantes.
O fato é que o espelho não me elogia. O bloco de notas não me dá ideia. A rotina segue me humilhando. (E as pessoas seguem sendo elas).
Ando sem tempo pra tirar o esmalte restante da unha descascada. Me irrito fácil com o cabelo curto depois de dois meses de cortá-lo. Quero arrancar qualquer pedaço de mim que me desalinhe.
Tudo parece e está fora do lugar, uma vez que esse lugar sou eu quem escolho. Passo direto, enxugando as lágrimas no corredor de emoções, rezando pra voltar a escrever e esbravejar a tal Carta de Amor de Bethânia praqueles que de fato merecem.

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Alice
Ensaios sobre a loucura

just a small town girl living and writing in a lonely world