# Filosofia: Pessimismo e Solidão

Mari Dertoni
Ensaios sobre a loucura

--

Quando tudo está perdido, está realmente perdido?

Comecei a ler Schopenhauer recentemente e eu confesso que sempre tive tendencia mesmo ao pessimismo. Me identifico com todos os pensadores pessimistas! Ele diz que precisamos matar nossos desejos, que o desejo é o que nos leva ao desespero e ao sofrimento. Em consequência nos leva a constante infelicidade. Nosso desejo porém, é irracional, incontrolável. Sempre estamos desejando algo. Somos movidos pela vontade. Reconhecimento, poder, relacionamentos, ter um filho, uma casa nova, a separação, viajar, matar alguém, mais dinheiro, escrever um livro, plantar uma árvore, escalar uma montanha… Não importa. Assim que você alcançar, vai querer outra coisa.

Desse modo, segundo o filósofo, a felicidade não existe, o que existe é a paz de se afastar do seu sofrimento, do seu sofrimento de querer muito algo que ainda não conseguiu ou de conseguir o que sempre quis e depois se decepcionar com isso. Muitas vezes quando atingimos nossos objetivos nos entendiamos logo em seguida. Faz sentido pensar em momentos felizes, quando você consegue aquela promoção no trabalho que tanto queria, seu salário melhorou e você se sente mais poderoso. Logo percebe que caiu sobre você uma infinidade de responsabilidades e demandas que te estafam. O dia a dia começa a tirar o encanto da sua conquista, você se sente entediado e em alguns meses você já não se sente mais tão motivado por aquela promoção e pensa em procurar outro emprego, abrir o próprio negócio ou até mesmo largar tudo! Nesse processo você está infeliz, sofrendo em um lugar onde não queria mais estar. Suponhamos que você escolha largar tudo! Tinha uma boa economia e decidiu se demitir, pegar mais uma boa grana e passar um ano viajando e estudando coisas que gosta. Parece que é uma decisão libertadora e que traz muita satisfação. Quanto tempo você calcula que vai conseguir manter seu bem estar fora da sua antiga rotina, como eu dinheiro acabando, com tempo livre demais? enfim, independente de qual seja o motivo de sua frustração, dentro de mais algum tempo já desejará outra coisa e junto com seu desejo vem a angústia de alcançar o próximo passo. Realizações são sempre passageiras e não garantem que por isso você é enfim feliz.

Como se livrar da angustia dos desejos e transcender a eles? Schopenhauer ensina uma bela lição sobre se bastar, sobre se tornar alguém agradável a si mesmo. Se você não ama a solidão, você também não ama a liberdade. Logo, torne-se alguém bom, bom pra os seus próprios olhos, ao ponto de não precisar do mais ninguém para ter prazeres e alegrias. Não que você vá anular conexões pessoais da sua vida e viver em extremo exílio, apenas não condicione sua felicidade a coisas que você não possa carregar sempre consigo. Ou seja, nada além de si mesmo. Esse é um passo para evitar grandes sofrimentos, mas ele também fala de se ver como um indivíduo que faz parte de um todo, que se compadecendo com todos os outros seres vivos, você consegue enxergar quão pequeno é o seu sofrimento em relação ao de todas as outras pessoas. Praticando meditação e filosofias budistas e hinduístas consegue-se ter uma noção de transcendências desse tipo. Não me pergunte como, pois não é a toa que não sofrer é algo bastante raro nessa vida, não é?

Mas Schopenhauer nos traz algum fio de esperança não só direcionando para o conhecimento dessas práticas orientais, mas também na arte, a contemplação estética que nos faz enxergar mais as coisas boas que a vida pode oferecer, a beleza das coisas pode também nos levar a transcendência da dor. Porém ele ainda é mais específico com relação a música. Segundo ele a música nos liberta de angústias e tristezas e nos ajuda a suportar a dor de viver. Ouvir música constantemente, ou tocá-la, alegra-nos em uma experiencia totalmente individual. Claro que estamos falando aqui de música clássica, música instrumental, coisas que se podiam escutar no século passado. Constato que sempre que leio ou escrevo atualmente, escuto música clássica e é um grande alívio, me concentro muito mais no que estou fazendo e fico realmente em paz.

Não obstante eu penso na minha vida no momento, penso em quanto esse ano é um grande ano de solidão pra mim. Um ano de enfrentamento pessoal, de sobrevivência. Eu nunca estive tão sozinha quanto estou agora. Um filósofo alemão pessimista do século XIX pode me esclarecer que a solidão na verdade é um objetivo a ser incorporado, independente de você viver com alguém ou não, de ter uma grande rede de amigos ou não, é uma forma de atingir crescimento pessoal, é liberdade. Eu sempre me considerei livre, pelo menos em pensamento, mas nunca soube conviver comigo, aproveitar de minha própria companhia e sentir prazer nisso. É sempre vazio, não me basto. Creio que não me tornei ainda quem eu realmente gostaria de ser. O ano ainda não acabou, já acumulei alguns sofrimentos extras e hoje entendo que todos eles vierem de expectativas colocadas em outras pessoas ou coisas e não em mim mesma. Estou sempre apoiando meus momentos felizes em coisas que nem sempre podem estar comigo. Acredito que só de compreender isso agora, já me considero mais livre e mais em paz com a solidão. Quando você não se gosta o suficiente para estar bem com sua própria companhia, você começa a precisar dos outros para se sentir alegre, ou precisa comprar coisas, ou se mudar, ou viajar constantemente e etc. Você nunca está realmente sozinho se não se abandonar. Não se abandone.

*Você pode dar vários Claps em cada texto. Eles são super importantes, não deixe de curtir, se curtir! :)

--

--

Mari Dertoni
Ensaios sobre a loucura

Escreve coisas horripilantes, poesia, mini contos e aventuras fictícias