Fluindo

Guilherme C. Campos
Ensaios sobre a loucura
2 min readNov 13, 2016

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As portas, cada qual
Por onde esgueiro,
Fecham-se à minha retaguarda,
Despindo-me da possibilidade de regresso.

Dê-me mais um daquele benzodiazepínico.
Os segredos da paz são,
Ao menos por um escasso intervalo,
Desvendados.
Dói, mas repentinamente,
Já não sinto.

A escrita é como de Jack Kerouac
Contínua,
Espontânea,
Improvisada.

Só sei que algo me falta
Para compreender a Febre que me sufoca;
Aquela que gradativamente me destrói
E, convenientemente, me reconstrói
A seu bel-prazer.
Convalescente,
Como um residente do interstício.

Efêmero não é o que eu penso,
Transitórios são meus devaneios,
Não obstante, resistentes.
Perduram na dimensão do abstrato,
Obstinadamente.
No entanto,
Seus respingos transcendem o intangível.

Não, não quero mais uma dose.
Já foram tantas durante a vida
Para absorver (absolver) meu predicamento.
Ou talvez mais uma… só mais uma
Para adormecer reassistindo o crepúsculo
Daquele dia de outrora.

Hoje,
A contrapartida faz-me respirar areia,
Sucumbindo-me aos poucos,
De grão em grão.
Porém, não
Não sou um moribundo ainda.

Meu subconsciente borbulha
Como um caldeirão de demônios,
E eu traduzo da forma mais fiel possível.
Talvez, não conciso,
Pois é um discurso corrido.

O xadrez que você joga habilmente,
Eu nunca aprendi.

E as palavras que florescem na consciência
Não podem ser traçadas a um ponto de origem.
Qualquer conjectura ou decisão,
Sua ou minha;
Não há como reconheça-las inerentes.
O inconsciente reina
Sobre a ilusão do livre-arbítrio.
Noção contraintuitiva, eu sei;
Dádiva do seu deus mesquinho.

Desculpe-me,
As marionetes possuem uma falsa genuinidade.
Ela surge no seu hemisfério cerebral esquerdo,
Com o Intérprete de fios invisíveis,
O qual tece sua capciosa narrativa
Para que seu mundo faça sentido.

Onde tudo inevitavelmente
Sempre acaba em lágrimas
Num eterno ciclo.

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