Marionetes e marionetistas. Um único múltiplo & seus Personagens.

Pequenas peças teatrais sobre nós mesmos.

Wellington M.
Ensaios sobre a loucura
3 min readMar 7, 2019

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“Phenomenon” de Remedios Varo.

Entropia.

É uma sequência par que naturalmente se torna ímpar.

Sobre a realidade dos personagens homens.

Um homem se perde nas próprias palavras que dizem-no. Ele é um personagem de si mesmo em um livro de Kafka eternamente inacabado.

Repetição.

É necessário que tenha outros mentirosos para tornar essa mentira uma verdade, mas para eles mesmos, e não para outros.

Númeno (aspecto).

O homem é um personagem vazio, que depende de outros personagens vazios para se compor.

O homem aleijado.

Arrumamos todos os motivos para evitar a angústia. Inclusive a verdade.

A palavra do silêncio.

Há mais verdade nas coisas que você não diz do que nas que você tenta dizer.

A expressão humana.

O desejo é uma vontade que se diz mesmo sem perceber. Uma tendência, um movimento num contexto. É uma palavra que não se tem controle. Cria-se, mesmo achando que se está completando.

Arte como verdade acidental.

O homem precisa criar personagens de si mesmo para poder dizer suas verdades.

Sem querer, ele cria-se.

Ele precisa não ser sincero consigo mesmo. Ele precisa não perceber o que diz. Mas não percebendo, ele o diz.

Fenômeno de desaparecimento.

Quando um idealista olha para dentro de si mesmo, ele some.

Si.

Estou preso dentro de mim mesmo, um quarto escuro.

O falso trágico.

O mais pessimista de todos é ao mesmo tempo o mais otimista de todos.

Uma peça de teatro trágica e emocionante.

Todo pessimista quer a felicidade. Mas ele quer aquela felicidade que transcende a própria felicidade. E é por isso que sempre estará triste. Ele quer tanto, que acaba fugindo naturalmente para uma ficção.

A realidade de uma ficção.

Questiona-se o que há de real entre a marionete e seu marionetista. E se responde de maneira reticente: são as cordas.

Oficio de um incompleto.

Um idealista cria achando que tá tapando buracos.

Um buraco, no qual eu encaro e cuspo.

Minha esperança é tão real quanto a crença de que a gota de água vai congelar antes de se chocar contra o chão, apenas para fazer-se mais resistência.

Ela sempre vai se escapar pelos cantos.

Vou conceber no caos aquilo que nunca irei conceber na ordem: originalidade. De origem mesmo, de vida.

Tautológico.

Há certas coisas sobre a natureza humana que não se deve dizer. Unicamente por contradição.

A Cautela e a Metáfora.

A realidade é um texto cheio de sentidos. E se você retirar uma palavra do meio do contexto: o texto terá uma falha, e você terá uma palavra vazia. E lembre, nem todo texto precisa de sentido.

Material em evaporação.

Para muitos, o mundo é uma metáfora de si.

A fábula do mentiroso honesto e da honestidade mentirosa.

Uma formiga que adorava mentir um dia teve de dizer a verdade.

Mas ela amava mentir, e mentia com a fidelidade honesta de uma amante. Por isso, todas as suas companheiras sabiam da natureza brincalhona dela, e de seu hábito de bufona.

Mas em um dia derradeiro ela correu desesperada pedindo ajuda por causa que uma companheira precisava de ajuda, mas ninguém deu bola por saber de todo o seu histórico de mentiras formuladas, e assim todos ignoraram.

Aquele dia era uma verdade, e uma formiga morreu por isso. Seu hábito amigável de mentir acabou invalidando completamente sua verdade.

Uma formiga que viu isso, quis fazer o inverso.

Esta, que quando pequena até brincava com pequenas mentirinhas, percebeu que isso era muito nocivo para a própria mentira de verdade. Ela viu, que com uma única mentira ela poderia ganhar muita coisa. Mas o número de verdades precisa ser maior que o de mentiras, que aí quando ela mentir, ninguém duvidará. Formigas são animais de números, acreditam nas probabilidades.

Ela vai brincar com as probabilidades.

Enquanto dizia verdades, a formiga preparava sua grande mentira. Sua mentira, era as verdades que dizia. E sua grande mentira seria efetivamente sua verdade, a sua verdadeira intenção.

Quando ela mentiu, todo mundo acreditou. Era uma certeza: uma mentira potencializada por verdades raramente seria duvidada.

A formiga se tornou uma líder política, pois ela descobriu como reger.

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