Medo? Enredo

Ana Paula Vilela
Ensaios sobre a loucura
1 min readOct 15, 2020
Photo by Aarón Blanco Tejedor on Unsplash

Medo.

Do papel e, principalmente, da vida em branco.

De ter lápis, caneta, computador, livros, mentes e ideias e, ainda assim, nenhuma criação. Mil versões de uma mesma história.

Ora conto, ora poesia, ora crônica, pouco importa. Muitas ou poucas, rebuscadas ou simples, grandes ou pequenas palavras. Todas entoando o mesmo som, disfarçando mudanças, novidades e liberdades. Pura bobagem. Sempre a mesma história.

Medo de não ter medo.

O que seria, afinal, uma vida sem medo? Passaríamos ilesos por uma nova paixão, discursaríamos em plena Avenida Paulista para quem quisesse ouvir, deixaríamos o trabalho e viveríamos na praia, chamaríamos de bagagem uma pequena mochila.

E tudo isso sem um frio na barriga? Carece de paixão, de desejo, de conflito, de enredo. Palavras vazias. Certamente, uma vida sem história, um eterno papel em branco preenchido com os vocábulos de sua preferência.

Medo do excesso.

De brilho, dos apitos, do celular que vibra, notifica, da música que ensurdece, do barulho de dentro e de fora, de luz, agora de LED, de like, de multidão. E eu? Onde me vejo nesse tudo? Paraliso. Me vejo em nada.

Medo da falta.

Do papel e, principalmente, da vida em branco que insisto em reescrever.

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