Mima

Pedro Dantas
Ensaios sobre a loucura
3 min readNov 27, 2017
paperhi.com

Tínhamos combinado de preparar um jantar de celebração à mais nova integrante da família, a namorada do nosso filho, e o grande dia chegara.

Estávamos à mesa: eu, Jorge (meu marido), Lucas (nosso filho) e Manoela (a namorada), que ele nos apresentara, com toda a pompa, naquela mesma noite.

Manoela chegou de vestido preto, curto, belíssimo. Uma fenda vertical servia-lhe de decote, deixando a parte central dos seios à mostra, uma menina de muito bom gosto. Exalava um perfume cítrico, familiar, algo masculino, e estampava na tez suas constantes idas e vindas à casa da família no Guarujá, assim como a tatuagem que lhe cobria todo o braço direito — uma figura japonesa com direito a dragões, gueixa e sol poente. Seus olhos eram claros (verdes com halos amarelados em volta das pupilas), de uma beleza agressiva e dominadora. Seus cabelos, negros e compridos, conferiam-lhe um ar indígena, selvagem.

Lucas, por sua vez, nem era tão bonito, cabelos ralos e oleosos, espinhas no rosto, coitado.

Enquanto todos conversavam e riam e se deliciavam com o espaguete ao pesto, eu só queria morrer.

Não. Eu não estava chateada porque meu filho de 23 anos tinha arranjado uma namorada mais velha. Nunca fui dessas mães ciumentas, acho isso a maior bobagem do mundo — o pau é dele e ele enfia onde bem entender.

O problema é que eu já conhecia a Manoela — nos encontrávamos quase que diariamente na academia. No início apenas trocávamos um bom dia, mas logo passamos às conversas banais, então às confidências. Até que um dia, enquanto tomávamos banho no vestiário, ela me puxou para dentro de um dos chuveiros privativos. Eu deixei que ela me beijasse, deixei que me chupasse, e tenho deixado há cerca de um ano.

Agora estávamos naquele maldito jantar e eu não fazia ideia aonde Manoela queria chegar com aquilo. Ela sabia, sabia que Lucas era meu filho. Claro que sabia.

Passei o jantar inteiro esperando que a desgraçada me olhasse com malícia, esfregasse suas pernas na minha, revelasse que toda aquela encenação não passava de mais um dos seus joguinhos sexuais, mas nada — ela não demonstrava sinais de desconforto, agia como se aquela suruba familiar fosse coisa corriqueira.

Até que meu filho disse, Mima, me passa o azeite trufado, por favor, e eu perguntei que merda era aquela de “Mima”. Ele riu e falou que havia criado este apelido carinhoso, Mima, e agora Manoela só queria ser chamada assim, Não é, meu amorzinho?

Mima? Fiquei repetindo mentalmente, Mima, Mima, mas que coisa ridícula! Foda-se a Mima, foda-se todo mundo, puta que pariu, aquilo só podia ser um pesadelo.

Simulei uma indigestão e corri para o quarto.

Estava andando de um lado para o outro quando a porta se abriu, mas não era a Manoela, era o meu marido. Ele disse que os dois pombinhos tinham ficado na sala vendo TV, e perguntou se eu havia melhorado.

Nem respondi. Puxei o balofo do Jorge pela gola da camisa polo, arrastei-o até a cama, abaixei suas calças e montei em cima dele. Falei, me come, vai, me come porra, e ele ficou me olhando com aquela cara de bolacha, nós não transávamos há não sei quanto tempo e o coitado não estava entendendo era nada, mas eu fechei os olhos e continuei rebolando e gritando feito uma louca.

Manoela era insaciável, eu bem sabia, e quanto ao fato de que ela estava fodendo com meu filho no sofá da sala não havia a menor dúvida.

Espero que ela ouça meus gemidos e broxe, pensei.

Ou melhor, espero que ela goze pensando em mim.

Sim. Isso. Espero que aquela filha da mãe goze pensando em mim.

Então eu gozei.

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