Noturna mente
A noite é uma cópia da escuridão
Deixo aberta a janela para a brisa roçar tua imagem em minha boca
Cada noite é uma profecia enferma
Deuses semi-acabados em mármores abandonados, brasas que teimam em arder na última montanha de névoa, música que dorme dentro de um instrumento sem dono, uma espécie de morte das sílabas, agonia do tempo e uma solidão erótica que dialoga com minha porta destrancada
Cada noite que passa são rastros do teu olhar
Sinto-me como um veneno que nunca foi usado
Dá-me tua cintura para eu mergulhar meu dedos; façamos teu suspiro rimar com meu grito; murmura meu nome mordendo os lábios; diga-me sim para eu me vingar das horas que não te vejo; deixa-me sublinhar tua memória com promessas que saberei cumprir
Mais uma noite me invade com o vazio
Repito meu desejo falando sozinho
Encosta teu ouvido em meu peito
Vem vasculhar minha mente. Quero o abraço das tuas pernas, teus dentes calados em meu pescoço, tua flor úmida lacrimejando uma urgência. Juro bagunçar teus cabelos, usar minha barba para assinar segredos em tuas costas, degustar o som morno de tua garganta, misturar leite e vinho no mesmo cálice
Ouvir teu nome é meu monólogo emocional. Sinto-me como um daqueles deuses inacabados, esquecido num mármore
Conta-me como sair de teu território, ensina-me a te ignorar e devolva-me as noites de sono
Ontem fui até a cidade lá fora. Sabia que não ia te ver. Nem sei por onde andas
Só sei que o silêncio cresce
Como eu dizia, ontem fui à cidade e vi um palhaço chorando sozinho atrás de um circo
Voltei pra casa como quem volta para um deserto do tempo
Sento-me à mesa com a nudez da poesia e uma taquicardia que já envelhece
Se eu pudesse confundir meu sorriso com o teu e embriagar minhas certezas com tuas respostas
O silêncio cresce
Quero muito te esquecer
Essa é minha principal esperança