O Último Homem da Terra
O último homem da terra caminhou sobre as pontes quebradas. Ele disse “boa noite, minha querida, boa noite”, antes de se precipitar em uma delas. E sua pele já estava seca, até mesmo quando toda a chuva caiu em seu corpo. Mas no dia seguinte o sol veio, e ele levantou desencorajado, ouvindo a voz que dizia “venha me encontrar, você poderá ler meu endereço nas estrelas”. Então voltou a caminhar, como todo soldado em direção a sua estrada — lugar nenhum. No asfalto lia-se em toda parte: “onde está você, menino das estrelas? Onde está seu famoso olhar ensolarado?”.
Não havia água aquecida, e o frio era como uma nova lâmina de barbear. Mas ele não esperava muito dos lugares em que esteve ultimamente. Já não pensava no passado — em seu caminho ou na menina de cabelos amendoados. E ainda que os verões fossem longos e selvagens, já não cresciam mais macieiras. Agora o último homem da terra havia desistido de escalar as montanhas do crepúsculo, para cantar do alto, sobre sua ampla visão. Em todo o lugar em que pisara, o amor parecia correr junto e amargo.
Bem, antes fora o cansaço, mas agora a claridade preenchia o vazio dos pensamentos. Conforme caminhava aprendera a ler melhor nas estrelas, o que era empolgante. “É preciso expressar” a voz dizia “mas isso não significaria aprisionar a nada”. Aos poucos foi abrindo os olhos para os que cercavam. Ele era sim o último homem da terra, mas se sentia exposto, por uma razão qualquer.