pedra

caroline vital
Ensaios sobre a loucura
1 min readJul 3, 2020
*

Saiu enquanto ela caminhava, pelos pés. Ficou pesado e escorregou. ‘É nisto que dá andar descalça!’ a mãe dissera. Foi difícil de carregar ao hospital para reimplantá-lo. Era pequeno, do tamanho de uma mão, mas bastante sólido.

O médico disse que raramente via órgãos naquele estado. Quis saber logo o culpado. ‘Um monstro, sem sombra de dúvidas’ disse à família. A mãe logo enxugou uma lágrima que escorria de canto ‘foram vários, doutor...’.

Algumas horas mais tarde vieram as enfermeiras após a cirurgia. O comunicado foi que haviam tentado de tudo, mas ele não estava mais funcionando. A paciente necessitava de um transplante urgentemente!

Se as coisas fossem justas, os doadores seriam os causadores do dano. Mas, pobrezinha, eles mesmos não tinham! Ela teria então que se tornar como eles – o que era ainda pior do que possuir um danificado.

No final não teve jeito. A paciente foi obrigada a voltar sem coração para casa. O antigo – petrificado – ficou exposto em uma das alas do hospital. Serve agora como um alerta aos demais sobre os graves perigos de paixões desmedidas e excessivas entregas de seu órgão mais vital aos cuidados – não especializados e despreparados – de completos estranhos.

--

--