Nada

Rafael Gobi
Ensaios sobre a loucura
3 min readJul 26, 2016
http://m-wojtala.deviantart.com/art/Motel-bar-211376699 By M-Wojtala

A moça tinha os olhos grandes e castanhos escuros, sua boca parecia se encaixar perfeitamente embaixo do nariz delicado, seu rosto era oval e magro, o cabelo caia sobre a orelha esquerda e na orelha direita um pequeno brinco reluzia da sua orelha.

O brinco era azul, mas parecia mudar de tom e de cor conforme o humor de sua dona, o mesmo acontecia com o seu cabelo, que hora parecia loiro, hora moreno e às vezes até mesmo ruivo. Não usava batom, não precisava.

Seus lábios eram de um vermelho levemente escuro que contrastava com a pele pálida. Do pescoço pendia um colar, talvez um pingente descreva melhor, era uma pequena flor dourada, em uma corrente também dourada. Usava uma camisa que ia até a metade do antebraço, era branca e parecia nova.

A saia era preta e lisa e caia até um pouco a cima do joelho, usava uma sapatilha também preta, com pequenos adereços azuis. As unhas da mão esquerda estavam perfeitamente pintadas de um azul claro, o mesmo azul do brinco, e ela não usava nenhum anel.

Na direita as unhas eram pintadas do mesmo azul, mas o esmalte estava saindo, com falhas em algumas partes, no dedo mindinho um pequeno anel com uma pedra brilhante encaixava-se perfeitamente em sua mão. No dedo anelar ela usava uma aliança, mas estava sozinha.

Sozinha em um bar, as portas estavam fechadas e as luzes estavam ligadas, mas não em sua força total, o que dava um tom ao pequeno bar de amanhecer, a moça estava apoiada do lado de fora do pequeno balcão que tinha cerca de cinco metros, ela olhava para o palco também pequeno que comportava apenas apresentações apenas solitárias, no máximo de dupla se a tal dupla se apertasse.

O palco era apenas um pouco mais alto do que o pequeno salão lá embaixo onde existia pouco mais de meia dúzia de mesa de madeiras redondas, e pouco mais do dobro de cadeiras. Em cima da mesa mais próxima do palco um violão preto sem alça descansava.

A moça ficou por um tempo ali, apenas ouvindo o silencio e admirando o violão sobre a mesa e o palco vazio. Depois de um tempo ela foi até a mesa e pegou o violão, subiu ao palco com graça indescritível.

E ali parada, de pé, sem dedilhar ou afiar, pôs-se a tocar uma canção jamais tocada. Ela tocou e cantou por longos minutos de maneira esplendida, indescritível.

Os sábios e entendidos de musica diriam que a dificuldade daquilo era mortal, que as notas alcançadas eram inexistentes e de que maneira alguma alguém conseguiria fazer.

Os admiradores se emocionariam, chorariam enquanto a musica estivesse tocando, e no final aplaudiriam incessantemente, como todo bom apreciador faz.

Aqueles que perderam a audição voltariam a ouvir.

Mas no meio da musica, de repente, a moça fez uma pausa abrupta. E como uma chuva de verão que inicia e cessa a musica parou.

A mulher se entristeceu, pois notou que estava sozinha e ninguém jamais ouviria sua musica.

Então a mulher pensou: De que serve a mais bela das canções, se por ninguém pode ser ouvida?

O bar por um momento pareceu ter percebido a pergunta e respondeu a pergunta com seu interminável silencio.

Nada.

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