Shine on you crazy diamond

Yaisa, Ndaluuateme
Ensaios sobre a loucura
2 min readMar 21, 2019

No caminho da vida,
nos deparamos com incontáveis temporários
portos seguros.
De todos os portos que já me assegurei,
aquele que me acompanhava pelas esquinas
das mais silenciosas madrugadas
era o que eu menos poderia depositar minha segurança.
E em seu pescoço eu me agarrava,
de olhos fechados me permitia dar passos
que me faziam atravessar avenidas às quatro da matina
em busca do ponto mais bonito da cidade
em que eu pudesse ver o sol nascer.
Ele se preocupava com minha saúde
me dando umas tragadas de seu cigarro
e controlava minha mente
fazendo com que eu me perdesse
em meus próprios pensamentos
enquanto improvisava algo de seus dedos
que dançavam pelas cordas do violão
com solos que duravam quase uma noite inteira
alá compilados Pinkifloydianos.
Sons que não são os mesmos quando sento-me sozinha,
de volta à cidade,
com o gravador velho cheio de problemas na saída de som
enquanto bebo água mineral
já que não vale a pena comprar um maço de cigarros
para fumar todos em seu nome.
Batizei aquele banco de pedra
em homenagem à sua loucura
e saudei cada estrela acima de nós com suspiros.
Foi você quem me ensinou a hora certa de suspirar.
O que me consola
é que estamos debaixo do mesmo teto-céu.
E a mesma luz que hoje me cobre
está à sua procura
para que você possa se permitir admirar.
Assim como você surgiu para controlar os meus pulmões
desesperados por todo ar existente no mundo,
a luz que me acompanha na noite
o procura para que o faça enxergar
o que seus olhos buscam desesperadamente assistir.
Você se olhará no espelho
e verá como sente saudade de sorrir mais uma vez
e não terá mais medo de olhar nos próprios olhos.
Não será mais seu próprio gatilho
e as lembranças não o prenderão no passado,
mas te guiarão pelo seu caminho em busca do futuro.
Será para si, O melhor guia
assim como foi para mim
o empurrão precipício abaixo
para que eu morresse para minha outra vida
e vivesse novamente para o presente.
Eu até gostaria que estivesse aqui,
mas seria egoísmo demais de minha parte
querer te encontrar toda vez que sentisse necessidade
de revirar minhas lembranças.
Prefiro querer te encontrar amanhã,
depois que a sua tempestade de medo passar,
depois que a coragem para sair do leito
sob a luz do sol te alcançar;
então nos veremos dia ou noite
com medo ou sem ele
ambos enxergando, respirando
sem medo de nós mesmos
sem medo de sentir.
Sem precisar fugir do mundo
para nos encontrar no colo um do outro..
Seremos porto seguro
sem ter necessidade desesperada de nos assegurar.

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Yaisa, Ndaluuateme
Ensaios sobre a loucura

Fragmento de lava que surgiu no instante em que, em mim, o primeiro vulcão entrou em erupção. Minha poesia pode não ser muito fácil de engolir.