Sobre a vida
Três poemas de Mike Essig
(Tradução R. Solino)
I — Timor mortis conturbat me*
Relâmpago
no céu noturno:
nada ali,
lá está,
nada ali.
Nossas vidas
neste mundo:
nada aqui,
cá está,
nada aqui.
Do nada,
um breve flash
de ser
antes do nada.
A morte
não encerra,
ela retoma.
Não tema.
*O temor da morte me perturba.
II — Epidemia de solidão
Alguém me disse
recentemente,
“está havendo uma epidemia
de solidão”.
Aí está!
Agora sei por que
meu coração estremece
quando vem o crepúsculo
e minha alma
treme ao amanhecer.
Esqueci de ser
vacinado.
III— Hora extra¹
Relógios abrem feridas que nem abutres ferozes com bicos mortais estalando. Suas mãos te pegam pela garganta estrangulando o pensamento. Relógios são mentirosos: sem tempo a perder, o tempo tudo cura, o tempo dirá, e, pior que tudo, tempo é dinheiro. Tempo não é dinheiro. O tempo é sua alma escorrendo pelos pés. Dinheiro é só uma marca barata de papel higiênico. Use-o de acordo. Zumbis pequeno-burgueses compram essas mentiras, confundem tempo com passo. O consomem como um café caro: quatro anos de faculdade, quarenta horas por semana, trinta anos de hipoteca, cinco anos pagando o carro. Compram suas vidas com tempo. Foram convencidos pelos usurários de que pagamento é propriedade, o sucesso é material. E ficam muito ocupados para questionar. Quando o tempo se esvai, eles morrem, sem saber que viveram uma mentira. O tempo é quem ri por último. Sempre.
¹ O título original, “Off the Clock”, significa “horas extras sem remuneração”. Não encontrei um bom equivalente local.
Originais aqui: