Butterfly Suicide Girl, Banksy

Um breve momento de crise psicológica registrado em palavras

Benjamin Cícero
Ensaios sobre a loucura
3 min readDec 13, 2018

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A falta de um amor às vezes é tão maior que um mero romantismo.

Quando se quer conversar sobre algo que te incomoda de um jeito que nunca poderia conversar com seus amigos, o que faz? Conversa-se consigo mesmo?

Nunca funciona.

Talvez o amor romântico idealizado, de fato, não exista, mas isso significa que o companheirismo ideal também não?

Nunca existiu.

Sentado numa balada, um perturbado se indaga. Há talvez algum efeito em luzes de festas que causem pensamentos intrusivos em “neuroatípicos”.

Luzes engatilhadas.

Eventualmente irão atirar, não há outra opção, voltar atrás ou desengatilhar é simplesmente impossível. Uma hora ou outra, durante a festa ou até mesmo já longe, o gatilho vai estourar e tudo que restará será o desejo de sair ileso. Você ou outros. Não se esqueça que o estouro de um gatilho pode machucar não só quem carrega a arma, mas todos aqueles que estão no caminho do projétil.

A maior parte da população esquece como coisas “banais” podem matar àqueles que não são socialmente aptos ou aceitos. Afinal há aqueles que morrem por causa de luzes, mas não as de baladas, carregadas de metáforas, mas sim as lâmpadas iluminadoras, carregadas por quem prega ódio travestido porcamente em amor falso e doentio.

Eu sinto que é covardia querer morrer, sentir-se inútil e estúpido, quando tantos dos meus morreram sem ao menos querer ou ter a chance de lutar. Por mãos de ódio.

Luzes engatilhadas.

Lâmpadas assassinas.

Quando o mundo virou um cenário surreal psicodélico?

Um perturbado continua se perguntando, agora sentado no banco de carona de um carro fechado.

Pensamentos intrusivos são mentiras inventadas por luzes engatilhadas ou apenas verdades que aparecem em momentos de desconforto?

São sinceridades que são ocultadas para não causar pânico coletivo.

Histeria.

O dicionário deveria definir histeria como sentimento coletivo causado por verdades ocultas.

Talvez por isso haja aquela frase que diz que uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade.

Vale mais a pena contar uma mentira mil vezes do que encarar uma verdade oculta?

As luzes engatilhadas dizem que sim. As lâmpadas assassinas dizem que não. Nada traz alguém de volta dos mortos. Nem mesmo uma mentira contada mil vezes.

“O mundo aceita os inaptos e diferentes”.

“O mundo aceita os inaptos e diferentes”.

“O mundo aceita os inaptos e diferentes”.

“O mundo aceita os inaptos e diferentes”.

Não importa quantas vezes eu escreva isso, continuará sendo mentira.

Agora já deitado em sua cama solitária: um perturbado continua se questionando.

Há necessidade em um companheiro ideal quando não consigo descrever a mim mesmo o que sinto?

Há alguma luz de balada por aí que não cause crises?

Há alguma luz por aí?

Há alguma luz?

Quanto tempo até que essa crise passe?

A crise passa mesmo ou simplesmente eu puxo a trava de segurança de algo que ainda está e continuará engatilhado até que eu atire em alguma coisa ? — que apenas espero que não seja eu mesmo.

Escuridão.

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Benjamin Cícero
Ensaios sobre a loucura

Há no mundo dois tipos de pessoas: as que gostam de viver e as que repudiam. Eu gosto de fingir que sou um quando sou o outro.