Coisas de gente grande

A vida é uma bicicleta com rodinhas

Aprendí a andar de bicicleta aos 7 anos, acho. Como meu pai era uma muquirana (apesar de ter muito dinheiro) comprou usada, colocou aquelas rodinhas e lá fui eu, no quintal enorme da casa onde passei minha infância.

O medo era constante, guiava a bicicleta trêmulo, não conseguia desviar dos buracos. Vez ou outra, esquecia onde era o freio e me espatifava numa árvore.

Acho que se eu não voltasse a montar nela no momento seguinte, deixaria o medo tomar conta de mim e nunca mais tentaria. Depois que sentí-me seguro dos mecanismos dela, foi mais fácil. Tiramos uma das rodinhas. Eu não sei o que acontecia, mas a bicicleta teimava em tombar sempre do lado onde a rodinha estava ausente. Caía, machucava, esfolava…até que minha mãe disse que eu deveria tentar o equilíbrio e não me apoiar apenas do lado onde ainda havia uma das rodinhas.

E assim foi, de tombo em tombo, machucando-me vez ou outra, que conseguí aprender. Só que crescí, e deixei a bicicleta de lado.
Outro dia, fui pedalar novamente e sentí o mesmo medo, o mesmo tremor e a imensa insegurança que eu tinha quando era criança.

Em relação a algumas coisas sinto-me numa bicicleta que há muito tempo não pedalava. Vem o medo, o tremor, a falta de habilidade, o esquecimento dos mecanismos e a insegurança…e a lembrança dos tombos, dos machucados, das espatifadas. Vem à lembrança que muitas coisas não trazem danos físicos e sim danos maiores, fere a alma sem cicatrização e deixa marcas por toda uma vida. Muitas vezes, você não encontra o freio e cai.

Há coisas que eu já não sei mais fazer, preciso reaprender. Usar as rodinhas de apoio e readquirir confiança na direção. Principalmente, saber onde acionam-se os freios.
Esquecí aquela coragem inocente de voltar a pedalar imediatamente após a queda.

Acho que vou jogar vídeo game…