Sua vida não é tão foda assim

Sobre quando o personagem não convence

Eduardo T’Ògún
Entre Aspas
2 min readSep 27, 2017

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Eu gosto das pessoas que chegam já mostrando o que são. Assusta num primeiro momento, mas depois de um tempo, prefiro assim.

Essas pessoas são aquelas que já tiraram as máscaras que nos ajudam a viver essa vida de cão e só voltam a usá-las quando precisam. Isso é ter o controle sobre sua própria personalidade. Mas eu acabo sempre gostando.

Todos temos nossas imperfeições, eu tenho as minhas também. Mas ser uma máquina de agradar pessoas é anular sua própria vontade em prol de alguém que talvez não tenha nada para dar e minha paciência em desvendar personalidades é bem curta.

Acho que a maior prova disso é o Instagram. Todos mostram o quanto sua vida é foda e eu me perco no meio de tantos dentes a mostra, de tantas festas e baladas. Aí, quando uma pessoa nos decepciona, sentimos dor. Mas no fundo e em muitas vezes, os grandes culpados da frustração de expectativa alheia somos nós mesmos. Fazemos um grande esforço em mostrar algo que não somos e quando a verdade vem à tona, ficamos tristes com o outro.

Não sou nenhum pessimista, mas prefiro lidar com alguém sabendo que, em algum momento, o personagem se desfaz feito cera derretida. Isso evita muita coisa, muito peso que não estou disposto a carregar. Bastam os meus que, muitas vezes, nem sei lidar.

Sempre despertamos dessa flutuação água com açúcar e prefiro saber que sempre existe mais do que belos sorrisos, que o buraco é mais fundo, que não adianta entregar expectativas porque cansa tentar ler a legenda de um personagem que não convence.

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Eduardo T’Ògún
Entre Aspas

Iniciado no Candomblé há mais de 30 anos, estudioso do Culto Egungun, geminiano, inquieto e estabanado.