DROGAS, A IGREJA E AS MÁS COMPANHIAS

Karagan Griffith
Entre Cornos
Published in
7 min readJul 18, 2023

Alex Sanders foi sempre bastante generoso com todos; abria o seu apartamento no número 40 Clanricard Gardens, em Bayswater, Londres a todos os que procuravam na Witchcraft uma «casa», um porto seguro para aquilo que acreditavam, uma alternativa à doutrina austera da Igreja de Inglaterra, do Catolicismo Romano ou de qualquer outra ramificação costumeira do Cristianismo. No entanto, Alex sempre aconselhou os seus estudantes a lerem tudo, incluindo a Bíblia, o Corão, os Veddas e demais textos sagrados para que se pudessem expor à sabedoria universal que reside em cada um deles. Alex fala disto na entervista que Stewart Farrar fez a 8 de Dezembro 1969. O saber está presente em diversas fontes e quem as ignora, torna-se ignorante por teimosia, o que por si só é um comportamento medíocre. Espera-se que os «sábios» ou iniciados, tenham um discernimento amplo e abrangente. Leia-se parte da entrevista abaixo para que se faça uma ideia plena do que Alex pensava:

Stewart — Você diria que o Deus das bruxas e o mesmo que o Deus dos Cristãos? Alex — Na essência, não interessa que parte do mundo você está, você terá sempre a força divina representada de formas diferentes. De acordo com os antigos Egípcios, a parte masculina da forca chama-se Osíris e a parte feminina chama-se Ísis. Estes são aspectos do Uno — masculino e feminino, porque tudo tem de ser masculino e feminino, ou não será produtivo. O Buda é um aspecto gentil do nosso Deus e Deusa — o absoluto combinado nele mesmo; o Cristo é apenas um aspecto do nosso Deus Cornudo — se você ler o Velho Testamento, você verá que existem vários Deuses e Jehova era cultuado numa moita como o Deus Bode por isso deveria ter cornos na sua cabeça — “Yah-weh” não é um, mas dois; o bode e a Deusa. Estes eram cultuados numa moita, ou seja um espaço circunscrito à volta deles. Moisés de Miguel Ângelo, no Vaticano, tem cornos na cabeça. Patriarcas são apenas deuses menores e os Anjos são apenas aspectos mais elevados desses mesmos deuses menores. O nosso culto é universal. O Cristo aparece irradiando luz na coroa da cabeça, o que apenas são cornos que se transformaram em luz. Uma aréola. O Deus Pan é o simbolo perfeito de iniciação e evolução espiritual, simbolo de que o Homem teve no passado uma natureza animal; a parte animal muito perto da terra, e a parte humana que se eleva dele próprio. Stewart — Eles tentaram erradicar a parte feminina. Alex — Sim, mas não na Igreja Católica. Stewart — Penso que eles gostariam de o ter feito. Tiveram de canalizar isto no culto Mariano, para que absorvesse este instinto direcionado à Deusa Mãe. Alex — Nós cultuamos a nossa Deusa no ponto cardinal norte de nosso circulo. Na Igreja Católica, a capela da Mãe está sempre a norte. De facto, nós poderíamos ir a uma Igreja e sem ser derrogatório, cultuar a nossa Deusa. A imagem geral da Virgem Maria, vestida com um manto azul e túnica branca veio de um templo pagão em Itália. Nos primórdios da religião católica, um padre entrou um pequeno templo pagão e viu uma menina a cultuar a Deusa numa imagem linda. Ela disse ‘Hoje é o dia do meu casamento e eu estou a rezar à Deusa Virgem.’ Ele achou isto tão lindo e extraordinário, que tomou isto e levou para a sua própria igreja e o culto tornou-se o culto da Virgem Maria, Mãe de Deus. E nós temos 12 pontos ao redor do nosso circulo, e como tal você vê a Virgem Maria com 12 estrelas a volta da cabeça com a Lua e a serpente a seus pés. A serpente representa sabedoria.

Alex sempre foi bastante aberto quanto as representações do poder divino noutras tradições — poder divino e universal e como tal está presente em todas as religiões, embora com “vestes” diferentes.

Embora bastante aberto a todos os tipos de caminhos religiosos, Alex era extremamente rigoroso em alguns outros aspetos da Craft. Alex seguia algumas regras que eram, segundo ele, essenciais.

O uso de drogas, qualquer que fosse a sua natureza, era um dos aspetos em que o Alex era contra e extremamente rigoroso quanto a implementação desta regra no seu coven. Ele não permitia o uso de drogas nem iniciava ninguém que tivesse o hábito de as usar. Alex ajudou bastantes tóxico-dependentes a deixar o uso de drogas com sucesso. Embora vinho, por exemplo, seja usado na Craft, o seu uso não é um abuso. Somos treinados a usar métodos de clarividência e prescutação, mas Alex achava que o uso de drogas inibe as capacidades naturais do indivíduo, em vez de as enaltecer. Assim, ele preferia que o iniciado desenvolvesse as suas capacidades naturais sem depender da ajuda de drogas. As perceções sob a influência de drogas, são na maior parte das vezes enganosas e fruto apenas das reações químicas numa mente sem treino ou capacidade para as controlar ou descodificar. Uma das histórias famosas do Coven de Londres foi o banimento de um dos iniciados de 1* grau que usava drogas de forma compulsiva. Alex baniu o iniciado do coven sem pensar duas vezes. As regras são conhecidas e existem razões especificas pelas quais estas são implementadas. O uso de drogas no coven do Alex era proibido. Na altura (1969–70) era uma altura na história complicada em relação a drogas. O uso de marijuana ou hashish era popular e normal. Não dentro de um círculo de witchcraft, não entre iniciados da Craft no coven de Alex Sanders. Os que as consumiam eram encorajados a deixá-las, e a parar de imediato com o seu consumo. Alex ilustra isto bem na mesma entrevista com Stewart Farrar.

Alex — “Se eu me mantivesse calado, haveriam muitos jovens tóxico-dependentes os quais nunca teriam sido curados e nunca teriam reconstruído as suas vidas. Tenho tido uma enorme quantidade de jovens que vêem até mim, que tiveram algum contacto superficial com o oculto sob a influencia de heroína, mescal, hashish, marijuana — eles tomaram de tudo! Normalmente estes indivíduos vivem de ajuda social, sem abrigo, dormindo onde podem — eles vem até mim e pedem para ser iniciados. Eles não são adequados para serem iniciados, mas tiveram experiencias psíquicas pois a sua consciência foi aberta pelo uso de drogas. O conselho que eu dou a estes indivíduos é dar-lhes alguns livros para ler dos que eu acho que serão uteis para cada um. Se estes forem dissidentes Católicos Romanos, eu indico as partes misticas no Velho Testamento e digo-lhes para irem para casa estudar essas partes, começar a ir à igreja e ver se eles conseguem tocar o mistério dessa forma; em primeiro lugar, arranje um emprego, acabe de depender da segurança social, e depois venha me visitar uma ou duas vezes por semana e eu mostro-lhe como sair das drogas. Eu dar-lhe-ei algo bom para a sua vida. Antes dessa primeira onda de publicidade, eu não conseguiria fazer isto e olha que eu ajudei bastante gente assim.”

Com a liberdade sexual refletida nos anos 70, era mais do que natural que os candidatos ao coven de Londres viessem deste movimento. Naquela época, sexo, drogas e rock&roll eram um modo de vida de forma muito literal. Sexo na Craft é sagrado e como todas as coisas sagradas, não é para ser exposto ou usado de outra forma. A Craft é uma religião de fertilidade, mas hoje a fertilidade é vista de forma diferente; a fertilidade hoje é vista como fertilidade de mente e espirito. Claro que o sexo faz parte da nossa religião. Mas se faz parte, não o faz de forma indiscriminada e inconsciente ou simplesmente instintiva. Espera-se que os iniciados sejam conscientes da importância, valor e necessidade do sexo. Assim, o sexo é tido como sagrado e feito sempre de forma consensual, entre pessoas adultas, que tenham uma relação estabelecida em ritual privado.

Alex teve alguns encontros com, aquilo a que ele chamava de, “bruxas negras.” Estes são bruxos e bruxas que, apesar de terem começado em coven normal, se desviaram do caminho da luz e da Craft como método de evolução espiritual. Estes bruxos e bruxas, deixaram o caminho do sagrado e abraçaram o caminho da exaltação do ego, do excesso e da sedução do lado negro da magia. Todos nós temos egos e todos temos reações fortes e por vezes exacerbadas a coisas que acontecem à nossa volta, mas neste caso, e diferente. A sedução é de tal forma forte que estes iniciados deixam-se banhar nesta lagoa negra e quente, e por fim deixam que a sua aura imersa nesta vibração, de forma irreversível. Claro que o trabalho de covens como estes vai contra todas as regras e treino dados a covens da Craft. Nestes casos o melhor a fazer é ter consciência do que estes covens são, quem os constitui e como operam. Estes covens deixam-se seduzir pelas baixas vibrações que se mascaram de poder, e continuam em espiral descendente ate que não há mais nada que se possa fazer. Os membros destes covens são naturalmente controlados pelos seus próprios egos, naturalmente controladores e abusadores, mantendo uma relação quase de sado-masoquismo com os seus membros, os quais anseiam pela sedução, falso poder, rituais vazios e sentido de falsa segurança. Estes covens são descritos por Alex Sanders em várias ocasiões como “black covens” ou “black witches.” Estes são atraídos pela luz dos covens que trabalham em alta vibração, com a tendência de os procurar.

Iniciados conscientes, sabem como se distanciar deste tipo de covens e da sua companhia. A capacidade que tem de sentir a baixa vibração, é uma forma efetiva de identificar e prevenir o contacto. A forma mais comum de se sentir o efeito e pessoas deste calibre é um sentimento de se ficar “sujo” após contacto direto.

Penso que os indivíduos que constituem estes grupos, foram atraídos para este tipo de coven e de liderança. Todos nós temos vontade própria, e é precisamente quando deixamos de ter, que as coisas se complicam.

--

--

Karagan Griffith
Entre Cornos

Alexandrian Priest and Witch, blogger, publisher, film director and author. Host of “On the Blackchair” and “Hidden Light”