“…eu te amo, meu tolo demônio…”
“Fadas e demônios não podem ficar juntos. Você sabe disso”- ela disse com a voz triste mas firme. “Nossos mundos são muito diferentes e você nem de perto é alguém confiável”.
Normalmente eu tomaria aquilo como um elogio, afinal passei a minha existência enganando e corrompendo almas, mas naquele momento, vindo dela, as palavras doíam e me fizeram sentir patético. Enquanto falava, eu lembrava como tudo começou… Era apenas mais uma conquista, era pra ser apenas mais uma alma desesperada a ser coletada…
Ela era uma pequena fada de luz, brincando nas bordas de nossas realidades. Me disfarcei como se fosse um deles, e a convidei pra dançar. A dança virou uma conversa, que virou outros encontros que se tornou um beijo e muito mais. E não sei quando, aquele que corromperia se viu apaixonado. O que era pra ser uma barganha simples, se tornou a coisa mais importante para mim e algo completamente sem futuro.
Queria dizer a verdade, mostrar quem eu era e como ela era importante pra mim. Mas as mentiras e falsidades já tinham criado uma estrutura tão longa e profunda, que admitir isso seria perdê-la ainda mais rápido. Cada momento, cada encontro, era a única coisa que importava. Mais nada.
Mas com o tempo, já não conseguia esconder minha essência, meu eu verdadeiro. E foi a primeira vez que vi minha pequena fada chorar. Sua luz se tornou pálida, e pela primeira vez senti uma culpa e um arrependimento que desconhecia até então.
“Por mais que eu adore você, mesmo se pudéssemos, não sei se conseguiria ficar com alguém que me enganou por tanto tempo”- as lágrimas cobriam seu rosto, enquanto batia suas mãos em meu peito. “Adeus, eu te amo muito, meu tolo demônio…”
Enquanto partia, senti pela primeira vez lágrimas rolando em meu rosto. Senti a dor do vazio e da solidão, e que carregaria essa dor por toda minha existência.
Se realmente todo demônio precisa ser punido e que com o tempo descobre sua pena, a minha foi descobrir que demônios podem amar, mas a sua essência inevitavelmente os faz ficar sozinhos, pois a única coisa pura que tem é esse sentimento, mais nada.
