A saga mineira em direção ao deságue vitorioso

Um registro de como se deu a viagem das bandas Pata e Miêta para o Fest Porca Rápida, em Vitória

bruna vilela
ENTRE LP
14 min readJan 11, 2019

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Tudo começou — ou, sempre começa — com um encontro de bandas, mulheres, em um outro show. Alguns meses antes, véspera de segundo turno de eleição, eu estava em casa, ansiosa, sem conseguir fazer muita coisa. Vem o áudio de WhatsApp, com a efusividade inconfundível: “Amira, vem aqui pra casa, vei. A gente não pode se vencer pelo medo e pela a ansiedade, a gente tem que se unir (…) A gente tem que encher a cara com as sapatonas do Espírito Santo. (…)”.

O áudio vinha do celular de Celião (minha parceira/musa de guitarra na Miêta), mas a voz enunciadora era da Bê (antiga amiga, das pessoas que mais me faz rir no mundo, primeira baterista da Miêta, primeira baterista mulher a entrar no curso de Música Popular na UFMG e maga das baquetas na banda Pata). Era o dia anterior ao show da Pata, Whatever Happened To Baby Jane (as já citadas sapatonas do ES, mas não só isso) e Joe (punkzera de belô) no Matrizão da massa — das casas de show e espaços culturais mais tradicionais e engrandecedores de BH.

E eu cometi o erro de não me juntar às meninas nesse dia. Mas, no dia seguinte, eu estava. E as apresentações, obviamente, foram ótimas, com o rolê sendo pautado pela sensação familiar que dá conforto sem esforço — apesar de eu não ter conseguido trocar muita ideia com as meninas do WHTBJ (estarei adotando essa sigla improvisada ao longo do texto daqui pra frente, para falar da Whatever Happened To Baby Jane).

Algum tempo depois, apareceu o convite que guiaria a saga de fim de ano dos mineiros. Com antecedência, Vanessa e Lorena (WHTBJ) lançaram o Porca Fest Rápida, convidaram a Pata e a Miêta, e nós nos organizamos para estar em Vitória no dia 15 de dezembro. A Miêta já esteve duas vezes em Vitória e, em ambas, fomos muito bem recebidas. A cidade acabou se tornando uma daquelas que são pontuadas por carinho no mapa imaginário da banda.

O sonho Praia Quae Sera Tamen

Durante o tempo entre o show fechado e o dia 15, como a boa e velha banda independente quebrada, pensamos em marcar mais um show para conseguir mais uma graninha que ajudasse nos custos. E, dessa forma, entramos em crise, uma vez que o mantra ~PRECISAMOS DE PRAIA~ já estava instaurado.

A questão é: na Miêta, a última vez em que todos os integrantes haviam pisado o pezinho na areia tinha sido em uma miniturnê no Rio de Janeiro em março de 2017. Mais de um ano antes do Porca. E acredito que não preciso falar de novo da questão mineira.

O segundo ponto: o único dia livre que teríamos neste fim de semana em Vitória seria o domingo, dia 16 — livre para fazer mais um show ou livre para ir para a praia.

Buscamos alguns lugares no caminho BH-Vitória, analisamos algumas oportunidades de segundo show, porém nenhuma que compensasse a recusa do mar. Recusamos a possibilidade do segundo show.

Fizemos shows em Ouro Preto e BH (com a Pata, inclusive), conseguimos nos organizar financeiramente e dezembro chegou.

As 12 horas legítimas

Na sexta-feira, dia 14, véspera do festival, pegaram o trem em BH, rumo ao ES: Bê, Lúcia (admiradora de Dinossauros, rainha grunge diy, front-woman torta), Lulu (menino bão do look verão em qualquer estação do ano, dono do baixo estalado na Pata) e Julinha (artista visual não pedante, amorzinho da Bê e, eu descobri mais tarde, confidente e parceira de frustrações da adolescência no interior mineiro). A viagem dura, mais ou menos, 12 horas. Todos eles falaram que foi gostosa e tranquila, e recomendam no TripAdvisor.

A Miêta sairia às 6h no sábado. Como o atraso é sempre inevitável. Saímos por volta das 7h. Chegamos às 7h — também 12h de viagem. Estrada não tão boa e muito movimento/engarrafamento. Porém um consenso: a estrada pra Vitória é uma das mais bonitas pelas quais já passamos, ficando, lado a lado, talvez, com a de destino à Uberlândia.

Fotos de celular da paisagem, engarrafamentos, mil playlists e debates aleatórios de carro depois, chegamos em Vila Velha-onde iríamos ficar -, já com a ânsia de sentir cheiro de mar. O horário de verão contribuiu, também, para um chilique breve de querer passar na praia — ao que a nossa racionalidade respondeu com o lembrete de que não tinha tempo — antes de desembarcar na casa da Lorena (sapatão boa-praça, possuidora dos óculos de sol mais estilosos, anfitriã perfeita e aquela front woman que te assusta de cima do palco— também foi a guia da praia de Vila Velha).

Sempre que fazemos uma viagem longa, no momento em que paramos o carro no destino final, rola um ataque de riso — que eu considero sintoma de alívio. Qualquer pessoa das quatro na banda profere qualquer frase e é o bastante pra mais um chilique, com adições de piadas aleatórias que, depois, nunca mais fazem sentido. Aqui vale pontuar que a alegria foi potencializada pela recepção na casa da Lorena com cerveja, lasanha de berinjela e as pessoas perto das quais não tem como não se sentir confortável.

Mas o tempo era curto. Bebemos os dois copos do alívio, fumamos o cigarro da chegada, tomamos banho correndo e fomos para Vitória, no Stone Pub.

Porca Fest Rápida

O Porca Fest Rápida foi organizado com muito suor, correria, amor, profissionalismo, “vontade e atitude”, como diria a Vanessa (considero uma das minhas semelhantes de estética ‘primo it’ e dona de uma das baquetadas mais nervosas que já vi — e, também, pivô da produção desse rolê).

As bandas do line eram Inoutside (ES/MG), Errática (RJ), Miêta (BH), Pata (BH) e WHTBJ (ES). O evento ainda contou com Flash Tattoo, Body Piercing, Bazar de achados do armário, Bacião Läjä Records e banquinha de merch das bandas; e teve a força dos apoiadores: vanguarda., Muuu Comedoria, Kaffa Cafeteria, Antimofo, Läjä Records; Forever Vacation Records. A arte do cartaz ficou à cargo da Lorena.

A abertura da noite foi protagonizada pela Inoutside, que divide os integrantes entre Vitória e Juiz de Fora. Um trio com duas mulheres no front e um baterista. O show foi marcado pelo entusiasmo em ver a precisão com que a performance redonda foi traçada. Com a sonoridade que encontra sua chave pop dentro do alternativo -principalmente se comparada às das outras bandas da noite -, as meninas pontuaram com técnica os caminhos vocais melodiosos; a guitarra suja que se bastou enquanto a única no palco, congruindo riffs, solos e base; a bateria simples, porém eficiente; e o baixo que desfilou sem medo, com um timbre e uma destreza pontuais. Acertam em cheio no que se propõem a fazer.

No repertório, alguns covers (Paramore, Rage Against que eu me lembro)- talvez meu único incômodo na apresentação, ainda que esses tivessem levantado o público presente de forma eufórica e fossem executados perfeitamente com alguma personalidade. No pós-show da área de fumante, eu e Luiz conversamos com elas e fizemos a tradicional pregação da testemunha de autoral.

Todas as fotos por Melina Furlan.

Em seguida, era a nossa vez de subir no palco. Lembro que, ainda na passagem de som, comentei da qualidade dos equipamentos. Toquei com o meu amplificador favorito da vida inteira, feliz igual criança quando ganha o doce favorito (Fender Twin Reverb 212). Célia tinha um combo valvulado que ficava acima da minha altura.

Foi um show extremamente divertido. Estávamos enérgicos, seguros do som (a passagem de som foi precisa), apresentamos uma nova Intro + Primeira Música de show que havíamos criado naquela semana, tocamos músicas novas e dançamos bastante, como sempre. O público estava atento, o que, junto ao espaço gostoso do Stone Pub, deu o gás necessário. E, apesar das eventuais insatisfações pessoais que possam aparecer em relação a um aspecto ou outro, ou a execução — coletiva ou individual — de uma música ou outra, o saldo foi positivo para todos os quatro.

Mais 20 minutos de discotecagem e a Errática (RJ) subiu no palco. Duas mulheres incríveis que já conhecíamos das terras cariocas e, principalmente, do Motim — a casa e inferninho de corre mais incrível do Rio. Lety e Marcelli tornam gostoso o ato de olhar pro palco e observar/tentar entender a comunicação entre uma musicista e outra. Mas há de se estar preparado para o barulho. É uma sonoridade primitiva de riot, noise, anos 90 orquestrada de forma despretensiosa, porém, imponente entre as duas. Com a concisão dos tambores + distorção das cordas, a gente consegue entender quem é o alvo daquilo que está sendo cantado sem, necessariamente, entender a letra. E a mensagem é passada com eficiência crua, sem arestas aparadas.

No entanto, em determinado momento do show, o alvo teve a necessidade de se fazer presente naquela maneira que já conhecemos. Gritos de “toca Sepultura”, entre outros, vieram dos famosos macho-porre-do-rolê, ao que, como já dito e, mais uma vez, a resposta do outro lado foi dada.

Então foi a vez da nossa parceira conterrânea estrear no palco Capixaba. Outra que conseguiu dar o recado de si mesma com identidade e a peculiaridade torta de sempre. Talvez nem todos do público estivessem preparados.

Eu, que já vi uns bons shows da Pata, percebi alguns deslizes de execução, ocasionados, talvez, pelo cansaço de fim de noite ou tensão. No entanto, não interferiram na tradição da Pata de ser uma banda que dá gosto de tentar acompanhar as transições de dinâmica e vislumbrar as presenças de palco heterogêneas de cada integrante. O grunge não basta, o punk não basta, a música brasileira não basta, o riot não basta. A banda sempre acaba encontrando outros caminhos misturando isso tudo, através de letras irônicas, interação prazerosa com o público e um experimentalismo sem medo nenhum que embala temas universais de uma forma espantosamente espontânea. Lulu e Bê sempre têm as melhores expressões faciais tocando e Lucinha, sem qualquer esforço, já ocupa o spot de carisma de front woman.

Por fim, as anfitriãs. O show da WHTBJ no Porca Fest Rápida conseguiu ser melhor do que aquele que eu vi em BH, no Matriz. E me deu uma perspectiva mais ampla da banda, apresentando-a de forma mais potente. O que antes me parecia bom, mas comum, agora realmente achou outro espaço. Em Vitória, a formação contou com o baixo da Ignez Capovilla, o que, com certeza, contribuiu positivamente pra amplitude sonora.

Como dito em alguns adjetivos que usei para descrever as meninas, o impacto te atravessa à frente do palco, de frente pra elas. É redondo, rápido e, de certa forma, hipnótico. Lembro de estar com Marcela e Célia à frente do palco e comentar: “olha que absurdo o jeito que essas minas tão tocando”. É o punk com o suor e a gritaria que todo mundo gosta de ver. É bom demais de ver. Ainda teve espaço para aquela participação tinindo da Moyara em “Inferno de Vida”, que todo mundo ama (e que abre a música no disco). Inclusive, a fala inicial da gravação virou um bordão interno na Miêta que repetimos em situações das mais aleatórias (como não, né).

No mais, foi um dos eventos e festivais independentes mais organizados, gostosos e bonitos dos quais já participamos. A banca de merch foi uma arte à parte. Que lindeza que estavam todos os produtos de todas as bandas e marcas. Celião virginiana organizou um varalzinho que pode ser descrito apenas como top. O espaço de flash tattoo e body piercing estava bem estruturado, chamou a atenção e movimentou bastante o rolê.

O público estava bem (nem os macho-porre-do-rolê conseguiram roubar qualquer percepção positiva das pessoas presentes); nós estávamos bem; todos os horários foram cumpridos e os DJ`s foram certeiros na sua função.

Ao fim, algumas conversas existenciais de proximidade do fim de ano com Luiz e Marcela na porta do evento e a percepção de que já estava um pouco bêbada, quando comecei a andar na rua sozinha, fumando e olhando pro alto. Consideramos a possibilidade de irmos todos para um Karaokê perto dalí. Mas, mais uma vez, recusamos. Tínhamos compromisso no dia seguinte logo cedo.

Chegando na casa da Lorena umas 4h30 da madrugada logo após o show, o plano era beber a saideira. Teve gente que bebeu. Teve gente que capotou na rede (quando jurava que renderia). E eu fui dormir com o corpo pesado fisicamente, mas leve psicologicamente (coisa que não tinha conseguido fazer naquela semana anterior inteira).

No dia seguinte, a ressaca me acordou e me forçou a pegar o digníssimo copo d’água na cozinha. Umas 9h. Ninguém acordado. Voltei e dormi o soninho das boas. Até que um barulho infernal-apocalíptico-Mallu Magalhães cantando samba-por fim, enunciador da redenção- me acordou.

A redenção do sal

11h da manhã.
A Célia (a pessoa mais diurna da Miêta) pegou um violão podre da Lorena e começou a gritar pela casa — o meu mixed feeling de sono, resistência, raiva e empolgação no momento (nunca tive um mixed feeling tão completo) não me permite lembrar qual música era cantada, mas é certo que tinha a palavra “praia” no meio.

Acabou sendo bem fácil acordar. E, quando levantei, já não tinha um pingo de raiva de Célia. Acredito que não preciso explicar o porquê.

E, então, a redenção veio. Mineiro em praia acaba tendo duas reações que compõem um dos quadros que eu mais gosto de ver: ou tem receios e entra no mar dando uns gritinhos de 'ui' a cada onda, ou já pisa na areia demasiadamente emocionada(o), chora, apresentando-se como a pessoa mais amante da natureza do universo.

Acho que a maioria de nós faz parte do grupo emocionado, apesar de eu já ter vivido momentos do primeiro grupo com a Célia no Rio.

A praia fica a dois quarteirões da casa da Lorena. E, agora sim, mais honesto que qualquer latão em BH, o dia na praia de Itapuã-Bervely Hills (demorei um tempo pra acreditar na Lorena quando ela falou o nome) teve custos incrivelmente honestos.

Passamos o dia todo lá, bebemos o tempo todo, comemos, alugamos guarda-sol e cadeiras, e pagamos 30 e poucos reais cada um.

Fizemos vídeo de divulgação do maior esquema de corrupção do país, pulamos sete ondas e vivemos momentos lindos como este (que também representa muito bem nossas origens de feijão tropeiro):

Ao fundo, é possível me ver no período de tempo em que fiquei apenas 2h sozinha dentro da água, com a recusa de sair por qualquer motivo que fosse.

Enfim, retornamos pra casa da anfitriã — cujos arredores, inclusive, também apresentam ótimos podrões de lanche — já no fim de tarde bêbados.

Marcela, Lulu e Lúcia precisariam voltar ainda naquela noite para BH. E, enquanto eles arrumavam as malas, tivemos um pequeno luau de tributo ao Jeff Buckley que colocamos pra tocar na TV - no qual eu, Luiz e Célia quase perdemos a voz.

O terror de uma (não) chave de carro

Aqui, abro um espaço — e prometo ao leitor que será o último subtítulo — para relatar um caso que algumas pessoas classificariam como "a cara da Miêta".

Marcela, Lulu e Lúcia já estavam a caminho da rodoviária. Bê, Julinha e Lorena foram beber em um bar. Eu, Célia e Luiz continuamos bêbados em casa cantando músicas emotivas a plenos pulmões, botando todas as crises e as últimas tristezas da semana pra fora (Raça com Jeff Buckley dão um ótimo casamento), enquanto fazíamos o rodízio do chuveiro para tomar banho.

Eis que Marcela manda um áudio no grupo da banda. Célia recebe a notificação e ouve no meio da música.

"Marcela tá falando um negócio de chave aqui, que deixou, sei lá, não tô entendendo direito" — "Uai, como assim?" — "Sei lá, mas parece que tá tudo certo aqui no final do áudio…”

"Tudo certo? Ah, então beleza." [Aumenta a música de novo].

Todos de banho tomado, cansados, com o corpo pesado pós-praia, iríamos beber aquela cerveja leve de domingo à noite antes de dormir. Saindo do apartamento para encontrar as meninas no bar da esquina, Luiz para na porta de um jeito que já vimos tantas vezes. "Pera, onde tá a minha chave do carro?".[Passa a mão na cabeça].

"Ah, não, Luiz." — uma mistura de riso, zoeira e repreensão na fala.

"Gente, eu acho que esqueci a chave do carro na bolsa da marcela. Eu deixei com ela quando a gente tava na praia."

O riso de zoeira acabou. Procuramos o apartamento inteiro, nossas coisas. É, realmente, a chave estava com a Marcela. O que se seguiu foi o famoso climão, bad, cabeça baixa e a tentativa de organização mental rápida a respeito de como desmarcar compromissos da terça.

Há de se entender aqui que Marcela precisaria chegar em Belo Horizonte na segunda de manhã, colocar a chave no Sedex para recebermos na terça e pegarmos a estrada de volta para casa, para chegar, provavelmente, na terça tarde da noite ou na madrugada de terça pra quarta. E, como banda quebrada, mais dois dias em Vitória nos trariam mais custos. E, ainda, tínhamos compromissos na terça, os quais teríamos que reorganizar.

Luiz carregando uma cruz de cristo cheia de culpa, nem sabia mais se queria beber. Eu e Célia tentando pensar. Todos minguados em direção ao bar.

“Migo, agora é bola pra frente. Não tem o que fazer, não. Esquece, relaxa! Vamo pro bar, a gente dá um jeito. Vamo desmarcar os trem. Já manda mensagem pra Marcela. Sério, não frita com isso. Esqueceu, acabou. Vambora”

Boteco podrão tranquilinho à esquina. Rua vazia, calor fresquinho. Contamos para as meninas que ficaríamos mais um dia.

“Não ué, a Marcela deixou a chave comigo” (Lorena).

“QUÊ, COMO ASSIM, TÁ COM VOCÊ?”

Então, o grito do hexa veio junto de um abraço que levantou a Célia do chão, e junto do meu lapso de memória em relação ao áudio que a Marcela tinha mandado mais cedo falando sobre “uma chave” — (“não tá dando pra entender direito, mas parece que tá tudo certo” REGINA, Célia).

Até esse momento, nenhum dos três havia sequer lembrado do áudio, que tinha sido ouvido há, no máximo, duas horas.

Com a certeza de que não ficaríamos presos em Vila Velha, finalizamos a noite conversando sobre música, tretas da música independente, sapatonas que reproduzem machismo e outras polêmicas que a juventude brasileira mediana que acha que é artista gosta de conversar em bar. Eu e Julinha também gastamos umas boas horas falando mal da nossa adolescência no Sul de Minas.

No final das contas, aparentemente, o clichê do descarrego e limpeza do mar deve ser real mesmo. Ou os mineiros inventaram isso pra poder alcançar algum consolo sobre as frustrações do ano inteiro.

A Kim Gordon fala que “barulho e dissonância extremos podem ser algo incrivelmente purificante”. Fica aí a dúvida do que foi mais vitorioso.

O mar e o barulho não estiveram em falta nessa viagem.

2018 foi um ano pesado e todo mundo que estava ali tem que ser muito louco mesmo pra continuar mexendo com música. Não sei se todo mundo que estava junto no ES tem muitas perspectivas positivas e esperançosas pra 2019. Mas a redenção vem mesmo (ou justamente) fora de época - pulando ondinha antes do reveillon.

P.S.: Escutem as bandas aqui citadas.
P.S.II.: Depois descobrimos que, além da treta da chave, as meninas também passaram aperto na rodoviária quando Lulu ficou perdido e quase perdeu o ônibus que já estava saindo.
P.S.III.: A chave do carro do Luiz ficou com a gente, mas a chave de casa da Marcela não estava com ela quando ela chegou 7h da manhã na segunda em BH, e ela teve que ir pra casa da minha namorada — que, inclusive, não pôde ir por conta do carro lotado, mas fez muita falta nesse rolê todo.
P.S.IV.: Na estrada, há mais ou menos 1h/1h30 de Vitória, em frente a uma parada/lanchonete gostosa, tem uma fonte de água da bica onde dá pra abastecer garrafa, mas também dá pra tomar um caldo pela força da queda d’água, enquanto você enche sua pet. É ótimo. Parem por lá. Graças a deu, Luiz é um motorista bondoso que me deixou entrar no carro molhada na volta.
P.S.V: A Miêta ainda vai fazer uma turnê aquática só por cidades que tenham lugar onde nadar.

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bruna vilela
ENTRE LP

Pesquisadora de música e comunicação na UFPE, jornalista cultural e musicista de guitarra safada com delay excessivo e vocal soproso desafinado.