Abri minhas gavetas #4
“Anna Bella” ou para “São Pedro da Aldeia”
Segui o conselho de hoje da minha mãe e estou escrevendo para falar com deus e me esclarecer. Faço isso assim que acabei de passar a chave e verificar o bem-estar da Gordinha, segundo da suculenta e, por fim, olho com mais atenção para Magda no meu recém-criado pezinho de alecrim.
Já são quase duas da tarde e eu parei de chorar faz vinte e cinco minutos. Antes de agora, vinte e seis minutos atrás, eu desliguei a ligação com ela e fui rir um pouco com ainda não lidos textos da poetisa astrológica, que comprei nas primeiras horas de sábado, à noitinha.
Peguei sorte. Atravessei a Avenida Antônio Carlos mais depressa que os carros, mil vezes mais acelerada que o mocinho noiado de crack. Tirei a sapatilha amarela — ele gostou da minha combinação ontem, entre o amarelo e o roxo da sombra dos meus olhos; que agora estão quase roxos, que estão diminuindo o inchaço de três dias de farra — que começa e que termina com a influência da diva astrológica.
Bom, deus. É algo desse tipo. Estou exausta após três dias de bebedeira e falação. Esse show de sexta-feira, em que fomos juntos, que nos deixou cheios e embebedados, embebidos? Olha, deus. Eu acredito bastante na sensação que tive durante a declamação daqueles versos de sereia… Quando eu vi, já estava com as pálpebras encochadas nas palmas das minhas mãos — jurei que iria desmaiar, e daí eu e a Letícia fomos flutuando, flutuando…
E eu soltei mesmo a mão dele, ao invés de puxar.
Hoje é domingo, pé de cachimbo.
Magda saiu do casulo,
meu estômago dói de medo,
eu acho que estou fodida.
O picado ficou fechado,
no bar fechado da esquina.
Rua Rio Novo, Lagoinha, 06 de maio de 2018.
Informações e créditos
“Anna Bella” ou para “São Pedro da Aldeia” integra o zine “2018”. A prosa foi escrita em busca de fôlego, durante um domingo muito quente e confuso. O título faz referência a canção de Marina Lima e Antonio Cícero Anna Bella e ao poema São Pedro da Aldeia (Zaralha, 2015) da escritora e cantora Letícia Novaes, a Letrux.
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