Geração 80s: o retrato de Marina Person sobre cultura pop e reflexos históricos no longa “Califórnia”

Francielle Cota
ENTRE LP
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3 min readMar 22, 2021

Você viveu ou imagina como seria viver a adolescência na década de 80? Não é de hoje que o fascínio pelos “anos dourados” ganha espaço em diferentes cinematografias salpicadas por saudosismo da década que fez a cultura pop crescer exponencialmente. O boom do gótico e pós-punk fervilhavam da Inglaterra para o mundo, o cinema inovava suas produções com novas descobertas e adventos tecnológicos. No Brasil, um clima de revolução e a ânsia pela liberdade política pairavam no ar. O nascimento do Partido dos Trabalhadores (PT), as lutas operárias e democráticas traziam esperança de dias melhores e isso também florescia a cultura local. Ao mesmo tempo, o mundo se viu obrigado a lidar com a descoberta de uma assombrosa doença, a Aids, que por falta de informação e campanhas equivocadas, já foi sinônimo de muito preconceito e morte.

Califórnia filme lançado em 2015 pela cineasta e apresentadora super cool, Marina Person reúne todos esses fatos. Provavelmente, você aí que está do outro lado lendo esse texto e simpatiza com essa época, vai sentir um quentinho no coração ao acompanhar as transições da adolescência de Estela, carinhosamente apelidada de Teca, e JM, na cosmopolita São Paulo dos anos 1980.

Still de cena do longa-metragem “Califórnia” , dirigido por Marina Person — Produção: Mira Filmes; Local: São Paulo; Data: Março de 2014. Foto: Aline Arruda.

O embrião de Califórnia se formou muito antes de sua concepção propriamente dita. Marina, que conheceu os ofícios da sétima arte desde pequena — através das referências herdadas do pai Luís Sérgio Person, começou a traçar o roteiro em 2004. Naquela época ela trabalhava como VJ na extinta MTV e lidava diariamente com jovens fãs ávidos por música e cultura pop. O filme é muito sobre isso. Um amor compartilhado pela década e pela música. Na trilha sonora estão presentes canções de David Bowie, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha, Metrô, The Cure, New Order, Joy Division e Soiuxsie and The Banshees, o que a torna fiel à cena e dá compasso ao sentimentalismo nostálgico.

A diretora Person e os atores Clara Gallo (Estela) e Caio Horowicz (JM) durante as gravações. Foto: reprodução.

O primeiro longa de ficção de Person foca em retratar o universo de Estela (Clara Gallo), uma estudante do ensino médio vivendo conflitos típicos da idade, de identidade, amizade e amor. Ela tem um ídolo, o tio Carlos (Caio Blat), jornalista musical que vive nos Estados Unidos, e o maior sonho da menina é visitá-lo na Califórnia durante as férias. No entanto, seus planos vão por água abaixo quando ela descobre que é ele quem está voltando para o Brasil, magro e debilitado por consequência de uma doença sobre a qual a medicina apenas começava a se debruçar.

Apesar de ser considerado um filme de baixo orçamento para um longa-metragem, Califórnia conquistou boa projeção e foi selecionado para o Festival de Roterdã; vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro na seção Festival da Juventude da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; destaque de melhor atriz coadjuvante no Festival do Rio; melhor ator pelo público no Festival Sesc Melhores Filmes; melhor roteiro e melhor interpretação no Festival MixBrasil da Cultura da Diversidade.

Em outubro de 2019, o filme entrou para o catálogo da Netflix e está disponível aqui. Confira o trailler:

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Francielle Cota
ENTRE LP

Jornalista amante da película 35mm e boa prosa.