Oscar 2021: os representantes da Academia finalmente prestaram atenção no trabalho desempenhado pelas mulheres?

Francielle Cota
ENTRE LP
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6 min readApr 12, 2021
Ilustração: Francielle Cota

Demorou 93 anos para que duas mulheres fossem simultaneamente indicadas ao prêmio de Melhor Direção do Oscar — considerado a premiação mais importante do cinema mundial. Em 2021, Chloé Zhao, de “Nomadland”, e Emerald Fennell, de “Bela Vingança”, entraram para a história da cerimônia, que há anos vem recebendo críticas salgadas pela falta de diversidade. Desde 1927, somente uma mulher ganhou o prêmio de direção (Kathryn Bigelow, em 2010) e só outras cinco haviam sido indicadas (Lina Wertmüller, Jane Campion, Sofia Coppola, Kathryn Bigelow e Greta Gerwig).

Após inúmeras denúncias e movimentos sociais para inserir mais mulheres na premiação, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas parece ter despertado e finalmente sinalizou uma maior igualdade de gênero. A edição deste ano quebra vários recordes e tabus. Além das duas indicadas na categoria de direção, outras 70 profissionais receberam 78 indicações no total — número superior ao do ano passado, quando foram 68 indicações. Vale ressaltar que só há duas categorias mistas em que todos os concorrentes são homens: Trilha Sonora Original e Direção de Fotografia — esta última somente indicou uma mulher pela primeira e única vez em 2018, a diretora de fotografia Rachel Morrison.

Em 2021, filmes dirigidos por elas também concorrem nas categorias de Documentário (quatro de cinco indicados, incluindo o chileno “Agente Duplo”, de Maite Alberdi) e Filme Internacional, que pela primeira vez desde 2011 terá duas diretoras na disputa(e representando Tunísia e Bósnia e Herzegovina). “Toca”, de Madeline Sharafian, compete a Curta de Animação; “Uma Canção para Latasha”, de Sophia Nahli Allison, a Curta de Documentário; e “The Letter Room”, de Elvira Lind, e “The Present”, de Farah Nabulsi, a Curta de Live-Action.

Concorrente na categoria de Melhor Documentário, filme de Maite Alberdi mostra dura realidade de idosos em asilo no Chile. Foto: Reprodução

Ainda sobre recordes, Viola Davis tornou-se a atriz negra com mais indicações ao Oscar e vai concorrer pela quarta vez, agora com “A Voz Suprema do Blues”, disponível na Netflix, filme que também fez de Jamika Wilson e Mia Neal as primeiras mulheres negras a disputarem na categoria de Cabelo e Maquiagem. Destaque especial para “Minari”, Youn Yuh-Jung tornou-se a primeira atriz sul-coreana a ser agraciada com uma indicação no evento, enquanto Frances McDormand recebeu uma dupla indicação inédita: é a primeira mulher a disputar como atriz e produtora no mesmo ano e pelo mesmo filme.

“A Voz Suprema do Blues” consagra Viola Davis na história do Oscar. Foto: Netflix/Divulgação

Quem são as mulheres que concorrem ao prêmio de Melhor Direção?

Nascida e criada na China, Chloé Zhao é tida como favorita para se unir à Bigelow. Ela é a primeira mulher não branca a concorrer ao troféu de direção e a profissional com mais indicações em um mesmo ano em toda a história, tendo sido reconhecida nas categorias de Roteiro Adaptado, Montagem e Melhor Filme.

Chloé durante as filmagens de “Nomadland”. Foto: Reprodução/Century Studios.

O primeiro longa-metragem da diretora, “Songs My Brothers Taught Me”, estreou no Festival de Cinema de Sundance, em 2015, com aclamação da crítica. Recentemente, entrou para o catálogo de filmes disponíveis na Mubi. Seu segundo trabalho, “The Rider” (2017), foi elogiado pela crítica e recebeu indicações para o Independent Spirit Award de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Confira o trailer de “Nomadland”.

“Nomadland” (2020), atraiu reconhecimento internacional, vencendo o prêmio de Melhor Diretor no Globo de Ouro em fevereiro, tornando Zhao a segunda mulher a vencer na categoria e a primeira asiática a levar a estatueta para casa. Além disso, o longa recebeu prêmios em festivais de cinema, incluindo o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e o People’s Choice Award no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

Já Emerald Fennell, bastante conhecida como a Camilla Parker Bowles, de The Crown, foi indicada ao Oscar, mas não como atriz. A inglesa concorre em Melhor Filme, Roteiro Original e Direção por “Bela Vingança”. O longa, com previsão de estreia no Brasil para 22 de abril, também disputa reconhecimento na categoria de Melhor Atriz (Carey Mulligan) e Melhor Edição.

Emerald nos bastidores de “Bela Vingança”. Foto: Reprodução/Film National Entertainment

Vale destacar que Emerald é a primeira britânica indicada ao Oscar de Melhor Direção e ela só havia dirigido um curta-metragem em 2018. Apesar do rápido reconhecimento como diretora, ela vem construindo sua carreira desde 2006, quando estreou na TV como atriz e, anos depois, passou a escrever livros de suspense e roteiros.

Confira o trailer de “Bela Vingança”.

Nos resta saber se daqui para frente, a Academia incentivará cada vez mais a diversidade e igualdade de gênero na indústria cinematográfica apoiando e reconhecendo as contribuições de mulheres tanto à frente quanto atrás das câmeras. É o que realmente esperamos.

A cerimônia do Oscar será realizada em 25 de abril, diretamente do Teatro Dolby, em Los Angeles. Em território nacional, será exibida ao vivo pelos canais TNT, E! e Rede Globo.

Confira a lista completa de todas as profissionais indicadas ao Oscar 2021

Melhor filme
Ashley Fox, por Bela Vingança
Ceán Chaffin, por Mank
Chloé Zhao, por Nomadland
Christina Oh, por Minari
Emerald Fennell, por Bela Vingança
Frances McDormand, por Nomadland
Mollye Asher, por Nomadland

Direção
Chloé Zhao, por Nomadland
Emerald Fennell, por Bela Vingança

Atriz
Andra Day, por The United States vs. Billie Holiday
Carey Mulligan, por Bela Vingança
Frances McDormand, por Nomadland
Vanessa Kirby, por Pieces of a Woman
Viola Davis, por A Voz Suprema do Blues

Atriz coadjuvante
Amanda Seyfried, por Mank
Glenn Close, por Era uma Vez um Sonho
Maria Bakalova, por Borat: Fita de Cinema Seguinte
Olivia Colman, por Meu Pai
Young Yuh-Jung, por Minari

Roteiro adaptado
Chloé Zhao, por Nomadland
Erica Rivinoja, por Borat: Fita de Cinema Seguinte
Jena Friedman, por Borat: Fita de Cinema Seguinte
Nina Pedrad, por Borat: Fita de Cinema Seguinte

Roteiro original
Emerald Fennell, por Bela Vingança

Filme internacional
Jasmila Žbanić, por Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)
Kaouther Ben Hania, por O Homem que Vendeu sua Pele (Tunísia)

Documentário
Bianca Oana, por Collective
Garrett Bradley, por Time
Lauren Domino, por Time
Maite Alberdi, por Agente Duplo
Marcela Santibáñez, por Agente Duplo
Nicole Newnham, por Crip Camp: Revolução pela Inclusão
Pippa Ehrlich, por Professor Polvo
Sara Bolder, por Crip Camp: Revolução pela Inclusão

Animação
Dana Murray, por Soul
Gennie Rim, por A Caminho da Lua
Kori Rae, por Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
Peilin Chou, por A Caminho da Lua

Montagem
Chloé Zhao, por Nomadland

Design de produção
Cathy Featherstone, por Meu Pai
Diana Stoughton, por A Voz Suprema do Blues
Elizabeth Keenan, por Relatos do Mundo
Jan Pascale, por Mank
Karen O’Hara, por A Voz Suprema do Blues
Kathy Lucas, por Tenet

Figurino
Alexandra Byrne, por Emma
Ann Roth, por A Voz Suprema do Blues
Bina Daigeler, por Mulan
Trish Summerville, por Mank

Cabelo e maquiagem
Claudia Stolze, por Emma
Colleen LaBaff, por Mank
Dalia Colli, por Pinóquio
Eryn Krueger Mekash, por Era uma Vez um Sonho
Gigi Williams, por Mank
Jamika Wilson, por A Voz Suprema do Blues
Kimberley Spiteri, por Mank
Laura Allen, por Emma
Marese Langan, por Emma
Mia Neal, por A Voz Suprema do Blues
Patricia Dehaney, por Era uma Vez um Sonho

Som
Coya Elliott, por Soul
Michelle Couttolenc, por O Som do Silêncio

Efeitos visuais
Genevieve Camilleri, por Problemas Monstruosos

Canção original
Celeste Waite, por “Hear My Voice”, da trilha de Os Sete de Chicago
Diane Warren, por “Io Sì (Seen)”, da trilha de Rosa e Momo
H.E.R., por “Fight For You”, da trilha de Judas e o Messias Negro
Laura Pausini, por “Io Sì (Seen)”, da trilha de Rosa e Momo
Tiara Thomas, por “Fight For You”, da trilha de Judas e o Messias Negro

Curta-metragem de live-action
Susan Ruzenski, por Feeling Through
Elvira Lind, por The Letter Room
Farah Nabulsi, por The Present
Shira Hochman, por White Eye
Sofia Sondervan, porThe Letter Room

Curta-metragem de documentário
Alice Doyard, por Colette
Charlotte Cook, por Do Not Split
Janice Duncan, por Uma Canção para Latasha
Sophia Nahli Allison, por Uma Canção para Latasha

Curta-metragem de animação
Madeline Sharafian, por Toca

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Francielle Cota
ENTRE LP

Jornalista amante da película 35mm e boa prosa.