A autenticidade de Pabllo Vittar em Batidão Tropical

Ricardo Pereira
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 31, 2021

[RESENHA]

Por Ricardo Pereira

Novo álbum da drag queen exalta a regionalidade do Norte e Nordeste do Brasil / Ernna Cost

Mesmo se você não acompanha a carreira da drag queen Pabllo Vittar, provavelmente deve ter ouvido falar sobre o lançamento de seu novo álbum, Batidão Tropical, ou até ouvido alguma de suas faixas. Isso porque o álbum carrega a marca de maior estreia de um disco solo pop brasileiro no Spotify, e a maior estreia de álbum brasileiro no Spotify Brasil em 2021.

Composto por nove músicas, sendo três autorais e seis regravações de músicas dos anos 2000, Batidão Tropical traz referências aos ritmos forró e tecnobrega, do Norte e Nordeste, e resgata antigos sucessos musicais dessas duas regiões do país. Todas as faixas do novo álbum computaram mais de 4,7 milhões de streams nas plataformas, demonstrando ser, sem dúvidas, o melhor entre os quatro álbuns de estúdio lançados pela artista.

As duas primeiras faixas, Ama Sofre Chora e Triste com T, são os singles com um mix de forró e sofrência com melodias marcantes. As duas músicas marcaram o início da nova era de Pabllo em videoclipes com direito a continuidade de narrativas: o casamento malsucedido e a lua de mel sozinha.

Em A Lua, são inseridos mais elementos do forró, com sonoridade e letra que nos fazem relembrar grandes sucessos da banda Aviões do Forró. A referência foi citada também pela própria Pabllo, lembrando dos momentos em que dançava ao som das músicas da banda de sucesso em frente ao portão de sua casa, na infância. A quarta faixa, Ânsia, é uma regravação da banda Brega.com, que tinha os vocais de Eliza Mell. Mas o brega também fez sucesso com as bandas Calcinha Preta e Companhia do Calypso. Certamente, uma das melhores músicas do Batidão Tropical.

A faixa Não é Papel de Homem, originalmente da banda Kassikó, tem como base o ritmo calipso, de grande influência na cultura nortista e nordestina. Apaixonada, regravação da banda Batidão, e Ultra Som, da banda Ravelly, são faixas extremamente características do tecnobrega. E a Companhia do Calypso, não podendo ficar de fora, surge no álbum de Pabllo Vittar com as regravações dos grandes sucessos Zap Zum e Bang Bang.

O sucesso do disco e da drag queen se dá pela coragem de produzir em função da arte, e não somente do lucro. Pabllo Vittar assume verdadeiramente seu papel de artista ao lançar um álbum que confronta a genérica fórmula de sucesso musical no Brasil. Batidão Tropical está longe de ser somente mais uma música de funk com “feats” focados no eixo Sudeste do país. É um álbum nostálgico repleto da identidade de Pabllo e de uma grande parte do seu público.

As referências à sua infância e adolescência no Norte e Nordeste brasileiros sempre estiveram presentes na carreira da drag queen. Em faixas como Eu Vou, do álbum 111 Deluxe, e nas versões de No Chão e Meu Anjo, que não foram lançadas oficialmente, a artista se utilizou de ritmos característicos do forró e tecnobrega.

Fugindo da mesmice e, também, revolucionando, Pabllo Vittar trouxe um álbum carregado de regionalidade e autenticidade. Mesmo depois de construir uma brilhante carreira nacional e internacional, a artista afirma suas origens e exalta a cultura que regeu sua infância e vida até hoje. É uma oportunidade nítida de mostrar a brasilidade de ritmos como brega, forró, calipso e tecnobrega para outras partes do Brasil e para o mundo.

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