A busca pela coroa
Autêntica, espontânea e carismática, a miss Carolina Viana abre o coração e conta sobre as vitórias, os assédios e a transfobia nos concursos de beleza
Por Yuri Lima
Ana Carolina da Silva Viana, 19, é intérprete de libras, atriz e, desde 2020, aventura-se nos concursos de beleza. Nascida e criada em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, Carolina sempre soube que era uma menina e, quando os seus colegas da escola levantavam e questionavam sobre a “incógnita” da pequena Carol, ela se aflorava e tinha certeza de que era uma mulher transexual.
Em 2003, dona Zilma esperava uma criança, e as condições sociais e econômicas não permitiram que ela fizesse o ultrassom. Tia Gleucia acariciava a barriga da irmã e falava que o bebê se chamaria Ana Carolina. O tempo passou, Carolina e sua mãe mantiveram uma relação amistosa e, depois de tantas incertezas, Zilma rebatizou a filha.
A correria do “ser miss” sempre foi um sonho para Carolina Viana. A menina que se inspirava na Top Model Gisele Bündchen e sonhava com o glamour das passarelas se deparava com a correria dos concursos de beleza em 2020, quando participou de um concurso municipal em Caucaia.
“Quando recebia um comentário preconceituoso, com a cabeça que eu tinha antes, me afetava muito. Porém, com o tempo enxerguei que eu poderia transformar essa negatividade em combustível”.
Cuidados físicos e psíquicos, a escolha dos trajes, desenvolvimento da oratória e, até mesmo, o confinamento. A dura preparação para um concurso de beleza já faz parte da rotina de Carol, que respira aliviada quando fala que, após o término de um concurso, pode comer sem culpa.
O mundo da beleza é envolto a muitos temas polêmicos, bulimia, anorexia e outros preceitos estabelecidos por esses concursos, são notados e vividos por Carol. Ser a quebra do padrão não é suficiente, a cobrança da sociedade quando participa dos concursos de beleza torna-se uma realidade. Curvar-se ao sistema, mesmo sendo negativo, é uma opção para a primeira mulher trans do mundo a participar de um concurso de beleza na categoria teen.
Carolina conta, com um ar triste, sobre as dificuldades sofridas em alguns concursos de que já participou. Além da transfobia, o assédio é recorrente e se faz presente na vida da jovem.
“Quando fui para um concurso nacional, fiquei sabendo que os coordenadores estaduais se reuniram e discutiram como eu cheguei até lá. Se era por conta da prostituição ou se eu era bancada por alguém. E receber isso foi um choque muito grande.”
A miss que ganha faixas e coroas. A mulher que é questionada na rua se é mulher. A menina que é quase a mãe de sua irmã. Carolina Viana pulsa carisma e, na passarela da vida, entrega-se e dedica-se. Mesmo julgada e violentada, desfila representando outras meninas trans que sonham com o aumento da expectativa de vida. Ela é luz, força e, assim como os apresentadores dos concursos de beleza, termino meu texto coroando Carolina Viana.