A coragem de se tornar Diferente

Nicole Giffoni
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readFeb 10, 2022

Valdecio Lopes, o “Mago Diferente” do Instagram, conta a sua trajetória na música e como a coragem o levou a lugares onde nunca imaginaria estar

Por Nicole Giffoni

Mago Diferente / Acervo pessoal

Foi em uma sala de aula de Tianguá, no Ceará, que conheci Valdecio Rosa Lopes Filho. Sempre com um sorriso no rosto e, ocasionalmente, com um violão debaixo do braço, não havia tristeza que não fosse curada por ele já às oito da manhã. Aquele estudante era o xodó gaiato dos professores.

Hoje com 17 mil seguidores no Instagram e um público que o reconhece por suas músicas autorais, ele relembra as tímidas rodas de conversa e de música no canto da sala, antes de a aula começar.

Nascido em Fortaleza e crescido em Tianguá, Valdecio sempre teve contato com a música. Ainda na infância começou a participar de corais na igreja e a tocar violão, participando dos mais diversos eventos, como festivais e apresentações da escola em que estudava.

Estava no oitavo ano quando escreveu a primeira música, inspirado em uma colega de sala. Ele a viu conversando com um menino na hora do intervalo, pegou o caderno e começou a escrever, como se fosse uma poesia, fazendo a melodia posteriormente. Esse foi o início das suas composições, uma atividade que antes era apenas lazer e acabou se tornando parte de sua profissão.

Em 2019, ano em que ele se formou no ensino médio, decidiu focar todos os esforços nos estudos para um concurso da Polícia Federal. Entretanto, faltando uma semana para a prova, após dois anos de dedicação, ele recebeu a oportunidade de ir para São Paulo para participar da Mansão Maromba.

Idealizado pelo influencer digital Tiago Toguro, o projeto reunia pessoas de diferentes nichos da internet em uma mansão para a produção de conteúdo para as redes sociais. Valdecio, que passou a ser conhecido como Mago Diferente na Mansão, foi para lá com o intuito de cantar gospel, mas encontrou no forró seu objeto de inspiração e sua oportunidade de crescimento.

Essa mudança ocasionou — e até hoje ocasiona — diversos julgamentos da comunidade religiosa da qual fazia parte, mas o menino, que tinha um objetivo em mente, não se deixou abater. Por vir de berço religioso, Valdecio muitas vezes teve medo de juntar o Mago Diferente com o “Valdecio da igreja”. Mas, pelo incentivo dos pais, ele percebeu a importância de se unir a mensagem que transmitia pelo gospel com o forró.

“Eu nunca abandonei minha fé, e o que eu faço hoje como profissão não impede de Deus me amar. Se meu pai, muito religioso, me apoiou e juntou isso em mim, por que eu não vou fazer isso comigo? Então pronto, eu vou continuar, independentemente do que o povo for falar”, pontua.

Contudo, as coisas não foram tão fáceis assim. Para entrar na Mansão Maromba, ele precisou abrir mão de medos e inseguranças, mostrando com simplicidade e determinação o que sabia fazer com o violão emprestado de uma estranha e o refrão de uma música autoral. “Eu tinha tudo pra desistir ali na hora, mas decidi ir em frente”.

Valdecio recebeu, então, o convite para ir a São Paulo no dia seguinte, e é claro que ele — “sem ter nada mesmo, só com a cara a tapa” — aceitou a proposta. A partir de então, sua vida decolaria para destinos que antes eram apenas sonhos.

“Eu acredito que, quando as coisas têm que acontecer, elas acontecem, mas também acho que, quando você tem um sonho, quando você tem o sonho de conhecer algum famoso, por exemplo, e coloca aquilo como uma meta, pode passar o tempo que for, uma hora vai acontecer. Porque eu tinha como meta conhecer muita gente que hoje eu faço ‘assim’ e conheço. No tempo da Federal, eu tinha no meu guarda-roupas todas as pessoas que tinha como inspiração e queria conhecer. Assistia a todos os vídeos da Mansão antes de estudar, e hoje eu conheço e sou próximo de todos eles. Eu vi que, realmente, se você acreditar, vai acontecer alguma hora”, considera.

Em São Paulo, o Mago conquistou a todos com seu canto e seu carisma. “Cheguei lá como um ‘Zé Ninguém’ do interior que nunca tinha ido a uma cidade tão gigante, daquelas que a gente tanto estudava na escola, e terminei como um dos administradores da Mansão”, detalha.

Valdecio sempre tentava dar o máximo para melhorar o dia dos colegas e fazê-los sorrir, e não pude deixar de lembrar que ele fazia a mesma coisa nos nossos tempos de escola. “Se tu lembrar do meu jeito na escola, de ir de carteira em carteira, tentando tirar um sorriso da galera, eu não mudei muito, não, e espero nunca mudar”, projeta.

Mago Diferente / Acervo pessoal

Em novembro de 2021, Valdecio optou por sair da Mansão e seguir sua carreira de cantor e compositor. Atualmente, ele já coleciona mais de 17 mil seguidores no Instagram e tem vários projetos grandes engatilhados, inclusive com nomes como Marcynho Sensação, Wesley Safadão e Eric Land.

Reconhecido em todos os lugares por onde passa, a trajetória do Mago Diferente até aqui não foi fácil, mas, de acordo com ele, desistir é a pior solução que pode ser tomada. “Se você tem uma meta, você vai alcançar. Eu via o Wesley Safadão, eu criança ainda, e agora tô aqui, cantando com o homem”, relembra.

Atualmente, a palavra que define a jornada de Valdecio é “coragem”. Na maioria das suas conversas com pessoas mais velhas, surge a pergunta: “Como tu, tão novo, sabe de tudo isso?”. Ao que ele já tem a resposta pronta e convicta: “Tive que ter coragem pra enfrentar isso cedo e hoje consigo te dizer o que pode ser feito. Mas eu tive que ter coragem pra enfrentar tudo. Se tu tem um sonho, vai atrás, porque uma hora ele vai acontecer. Mas, primeiro, tem que ter coragem”, conclui.

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