A esperança da mudança pela educação

RylleryMarques
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 10, 2022

Aos 49 anos, Lêda Marques conta como a educação atravessou sua vida e a transformou

Por Ryllery Marques

Professora Lêda / Arquivo Pessoal

Enquanto corta um tempero e outro, aprontando o almoço dos filhos, a professora começa a contar sua história.

Maria Alrilêda Marques, ou somente Lêda, como é conhecida pelas pessoas próximas, conta que nasceu em Morrinhos, no interior do Ceará. A sexta de sete filhos de dona Ermilda. A caçula entre as meninas.

A infância humilde não permitiu que ganhasse os brinquedos lançados na sua época. As bonecas eram sabugos de milho enrolados em pedaços de retalhos de tecidos. Essa simplicidade, porém, ensinou sobre coisas que não se pode comprar e que são capazes de preencher grandes vazios: a fé e o amor.

Foi por conta desses ensinamentos que a crença em dias melhores e a união da família nunca faltaram. E, pensando nisso, antes de atingir a fase adulta, ela se dispôs a trabalhar.

Lêda não sabia, mas, aos 16 anos, cursando um ensino médio que preparava para o magistério, ela começava a traçar sua trajetória na educação. E, assim, começava a transformar sua realidade.

Ela precisava ajudar nas despesas de casa, e a escola da pequena cidade precisava de auxiliares para as professoras no núcleo de educação infantil. As duas coisas se uniram, e Lêda passou a ser conhecida, também, como “tia Lêda”.

A educação abriu portas, pela primeira vez, para a construção de uma vida mais confortável para ela e para aqueles que ela amava. Foi ali, também, que ela percebeu que se encantava pelo ato de ensinar.

“É o que eu sei fazer, é o que eu gosto de fazer. Gosto de ensinar.”

Quando completou seus 21 anos, Lêda percebeu que queria mais da vida, mais que apenas Morrinhos. Foi então que deixou sua cidade natal para contar a história de suas raízes, fazendo de Fortaleza seu novo e definitivo lar.

Na capital do Ceará, as coisas eram muito diferentes. A paixão pela educação precisou ser guardada enquanto Lêda se dava tempo para conhecer e entender o funcionamento da cidade grande. Enquanto isso, ia ganhando dinheiro trabalhando em outras atividades.

A vida na cidade era frenética, e as tantas descobertas, depois de 12 meses, apresentaram-lhe ao amor quando conheceu Fábio. Um ano depois, ela estava casada.

Seis meses após, veio a primeira gravidez. A segunda, quatro anos mais tarde. A maternidade aflorou e ocupou todos os horizontes da vida de Lêda. Tornou-se mãe em período integral. Doação máxima. Renúncia total. Isso até sua caçula completar 6 anos, em 2008, quando o marido, tão ciente da sua paixão pela educação, incentivou sua formação superior.

Lêda, então, voltou a fazer algo por si. Voltou a se debruçar sobre os estudos, tornando-se professora. Formada e especializada.

Anos depois de abdicar dos seus sonhos profissionais para cuidar do que chama de “projeto da sua vida”, como mãe, ela deixou sua paixão pela educação infantil tomar parte da sua rotina novamente.

Pela segunda vez, e de forma definitiva, ela viu a educação ampliar seus horizontes, suas perspectivas. Agora, mostrando-lhe que, além de uma mãe excepcional, poderia também ser uma excelente profissional.

Lêda acredita que a educação é sinônimo de transformação, como transformou sua vida, inclusive financeiramente. Acredita que todos os dias, na creche da Prefeitura de Fortaleza em que trabalha hoje, seus pequenos alunos estão, desde já, construindo seus futuros brilhantes.

“Olho para a educação e vejo esperança.”

Assim, nossa conversa se finda, com a professora declarando a esperança da mudança pela educação e o almoço posto à mesa.

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