A esperança, o luto e a força

Ana Luiza
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readDec 4, 2023

Desde nova, Maria Germana Barroso Morais carrega uma bagagem de muita luta, história, superação e muito esforço

Por Ana Luiza Barroso

Maria Germana em IPU (CE) / Acervo pessoal
Maria Germana na cidade de Ipu, no Ceará / Acervo pessoal

Nascida e criada na cidade de Ipu, no Ceará, em 1994, a terceira filha despediu-se da casa de seus pais aos 15 anos de idade. Maria Germana Barroso Morais se mudou para a capital do estado em busca de trabalho e qualidade de vida.

Seu maior objetivo era conseguir dinheiro para ajudar seus pais no interior. A garota, cuja trajetória de luta percorria sua vida desde a infância, começando a trabalhar na roça aos 6 anos de idade, para ajudar a conseguir o sustento da família, nunca deixou de sonhar alto.

Maria, como gosta de ser chamada, teve seu primeiro emprego na cidade grande logo após sua chegada a Fortaleza. Trabalhava como doméstica em uma casa,onde cuidava do lar e de duas crianças. A menina com objetivo de conseguir uma vida melhor e adquirir conhecimento por meio do estudo e do trabalho ainda assim se sentia como ninguém. Ela, que com quinze anos de idade não portava documentos como RG e um simples CPF, relata que isso para ela se tornava uma realidade impossível, vinda do interior e sem muitas condições e acesso. Maria conseguiu ajuda de seus patrões para tirar seus documentos e conseguir ter uma “dignidade de cidadã”, como ela diz.

Durante sua trajetória trabalhando em casa de família como doméstica na capital, Maria sempre tinha em mente um desejo de retornar à sua cidade natal. Seu apego a seus pais era muito grande. Sempre que podia, ela os visitava e consigo levava mantimentos. Em certa visita, levou o que era seu maior desejo desde sempre: seu primeiro presente para sua mãe, comprado com seu primeiro dinheiro do trabalho, uma TV colorida.

Os dias e os anos da jovem menina eram de esperança, conseguindo conquistar um pouco de seus sonhos. Ela nunca desistia, mesmo diante das dificuldades que a cercavam.

O ano era 2002. Em uma de suas visitas à família, a jovem descobre que sua mãe está muito doente. Um câncer tomava conta de seu corpo e se espalhava cada vez mais rápido, tirando a vitalidade de uma mulher guerreira, aos 51 anos de idade.

Em 2005, Maria teve sua primeira filha, Ana Luiza Barroso dos Santos, e agora a mulher que sempre teve esperança em tudo que via passava a construir uma família.

Maria Germana com sua filha no colo em Fortaleza (CE) / Fotografia: Acervo pessoal

Logo após a chegada de sua primeira e única filha, Maria teve um conforto. Meses depois do nascimento de Ana Luiza Barroso, ao ver sua mãe em uma situação de vulnerabilidade por conta da doença, ela se sentiu como quem perde um pedaço de si, frágil, desesperançosa, triste e vulnerável. Não acreditava que perder sua mãezinha estava tão próximo.

O luto veio em 9 de fevereiro de 2006. Maria Tereza de Morais, sua mãe, havia partido. A “doença maldita” — como chamava a leucemia, o câncer e diversos outros nomes que Maria gritava aos prantos — a tinha levado para descansar eternamente.

Inconformada com a partida de sua mãe, Maria enfrenta a perda de sua mãe da maneira mais dolorosa. Consigo carregava uma criança de apenas 11 meses. Pensava: “Meu Deus, como eu vou ter forças para criar essa criança? Deus levou minha mãezinha no momento em que eu mais precisava… Queria ter cuidado dela melhor, ter feito mais, talvez ela ainda estivesse aqui comigo”. A menina mulher se sentiu perdida no mundo, não aceitava a partida de sua mãe e, ao lembrar de todo o sofrimento pelo qual passou, desabava aos prantos.

Maria entrou em uma profunda depressão, aos 24 anos de idade, carregando uma criança, morando em uma cidade com quem se sentia sozinha, sem apoio, sem ninguém. Sua doença tomou conta de si, Maria não tinha forças para viver, não tinha forças para cuidar do seu bem, sua filha, que lhe daria forças para continuar a seguir sua vida.

Dias passaram, meses se passaram e os anos corriam. Maria Germana encontrou forças de onde ela nem saberia e imaginava que tinha: dela mesma. Ergueu-se e seguiu em frente. Sentindo a presença de sua mãe sempre em sua vida, contou com a ajuda de alguns familiares para seguir. Um deles foi seu pai, Luiz Barroso, que, por mais ausente que fosse, ele lhe deu o maior suporte para superar a perda de sua mãe e conseguir seguir sua vida e criar sua filha.

Maria, até os dias de hoje, não esquece de sequer um momento com sua mãe. Desde sua perda, relembra os momentos mais felizes que viveu ao lado dela, agradece e chora. Suas lágrimas percorrem um longo caminho que nunca têm fim. Apesar da dor, orgulha-se ao dizer: “Eu consegui seguir em frente, minha filha me ajudou a seguir, consegui ver esperança onde não tinha e tirei forças de onde não imaginaria ter”.

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