A obra e o quase bolo de chocolate

Rayssa da Costa
EntreFios - tecendo narrativas
2 min readSep 1, 2021

[CRÔNICA] O distanciamento social foi reforçado pela obra da prefeitura

Por Rayssa da Costa

Foto: Rayssa da Costa/Arquivo pessoal

Hoje uma construção me obrigou a ficar em casa, e pense numa sensação estranha! Não que seja convidativo sair de casa em plena pandemia, mas é exatamente por isso o agravamento do meu desconforto.

Explico: desde o início da pandemia de Covid-19, o temor pela doença faz com que os encontros sejam adiados para um momento em que a situação esteja menos insegura. E, hoje, o contato presencial com qualquer outra pessoa que mora fora da minha casa foi duplamente adiado: está acontecendo uma obra imensa na minha rua, envolvendo todo o quarteirão. Está sendo uma missão quase impossível entrar ou sair da minha casa em horário comercial.

Mesmo assim, o evento que poderia ter sido motivo pra dor de cabeça em algumas pessoas se tornou motivo para o entusiasmo e comemoração entre os moradores do bairro, que há anos esperavam a realização do tão sonhado saneamento básico.

A rua, que à tarde costuma ficar deserta, ganhou um singelo movimento extra, com olhares observadores para cada movimento dos trabalhadores. Soube, inclusive, que rolou distribuição de caldo para os operários, como gentileza e agradecimento pelo trabalho.

Nesse meio-tempo, apesar do barulho contínuo das máquinas, eu até esqueci desse acontecimento, acredita? Durante a quase doce ilusão de esquecer o maior assunto entre a vizinhança, considerei pedir por delivery um bolo de chocolate para o café da tarde. Mas depois pensei:

“Como que o entregador vai chegar até aqui? Além de colocar a máscara, lavar as mãos e passar álcool na embalagem, vou precisar fazer mais o quê pra comer o danado desse doce? Santa inocência!”.

Nesse momento, foi como se mais um portão se fechasse, evitando a minha saída. Mesmo reafirmando a importância dessas restrições momentâneas, sem querer dar o braço a torcer, minha consciência ainda cogitou criar um superplano pra essa quase fuga:

“É só pedir para a vizinha do lado deixar eu atravessar a casa dela e alcançar a rua de trás. Depois, é só esperar o entregador debaixo de alguma árvore e repetir o inverso do processo”.

Desisti. Era só um café da tarde, não era pra tanto. Enquanto isso, espero o encerramento da construção nos próximos dias para finalmente ser comemorado com o bendito bolo de chocolate.

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