Sem impedimentos

Caio Salgueiro
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readApr 20, 2021

Autora do livro “A Verdadeira Regra do Impedimento”, a jovem jornalista Karine Nascimento vem se tornando referência feminina na cobertura de esportes como futebol e basquete no Ceará

Por Caio Salgueiro

Karine Nascimento é jornalista formada pela UFC / Arquivo pessoal

Nascida em Fortaleza no ano de 1996, Karine Nascimento morou a sua vida toda no bairro Montese. Filha única, desde pequena sempre gostou de estudar por incentivo dos pais.

Ela relata que a infância não é uma parte de sua vida da qual recorda tanto, mas que foi bem tranquila. Sua primeira lembrança é da chegada de seu cachorrinho, quando tinha apenas três anos de idade, de quem lembra com muito carinho.

De origem humilde, Karine passou boa parte da vida escolar estudando no colégio Monteiro Lobato, pequena escola do Montese, sempre com desconto na mensalidade. Pouco antes de ingressar no ensino médio, seus pais estavam com dificuldades em continuar pagando o colégio, o que quase lhe fez ter de estudar no ensino público. Entretanto, a boa aluna que era e o ótimo rendimento escolar que tinha fizeram os coordenadores do colégio aumentarem seu desconto para que ela continuasse na instituição. Dona Socorro e Walter são duas pessoas por quem ela nutre um enorme carinho, por conta dessa situação.

No segundo ano do ensino médio, Karine se transferiu para o Lourenço Filho, um colégio de maior estrutura que comprou o Monteiro Lobato. Por conta disso, ela continuou com seu desconto e estudou os últimos anos na turma especial do colégio.

Dessa forma, conseguiu trilhar seu destino para a profissão que queria: o jornalismo. Desde pequena, gostava de acompanhar futebol. Ao ver seu pai assistindo à TV, a garota se apaixonou pelo esporte. “Em dias de jogo, eu lembro que tentava fazer as tarefas [da escola] bem rápido para assistir ao jogo com ele [pai]”. Ela relembra que, no seu aniversário de cinco anos, o seu pedido de presente foi a ida ao estádio para assistir a uma partida de futebol. Esse amor por esporte foi muito bem nutrida pelo seu pai, que, dentro de uma sociedade tão machista, ela admira por nunca ter tentado cortar essa relação dela com o futebol.

Ao chegar ao ensino médio, ela decidiu que o ideal seria unir seu amor e conhecimento pelo esporte a uma profissão pela qual tinha desejo. Com isso, ingressou na Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2014. Era seu primeiro contato com uma educação mais abrangente, onde pode identificar visões de mundo diferentes e pessoas das mais diversas culturas, como ela cita.

Durante a faculdade, Karine participou do programa “5 Toques”, transmitido às quintas-feiras na Rádio Universitária. Ela conta que foi um projeto que lhe engradeceu bastante na experiência jornalística, além de ter sido lá onde descobriu mais uma paixão por outro esporte: o basquete. No período em que esteve no programa, ela teve curiosidade de aprender mais sobre o esporte e decidiu ir aos jogos do Basquete Cearense. Isso fez com que criasse um sentimento de proximidade semelhante ao que tinha com o futebol. Sendo assim, seu espaço no programa seria para falar exatamente do basquete, junto com sua amiga Karol Tavares, com quem ia aos jogos do Carcará.

Ela relembra que um dia bem triste de sua vida foi quando a Rádio Universitário anunciou que o programa iria acabar em junho de 2019. Ela disse que iria sentir muita falta da programação junto com amigos e daquele espaço que tinha para falar de basquete. Foi o programa que melhor lhe preparou para o “ao vivo” profissional.

Karine é escritora da obra “A verdadeira regra do impedimento” / Arquivo Pessoal

Também foi durante a faculdade que Karine produziu a maior obra de sua carreira, de acordo com as suas palavras, o livro-reportagem “A Verdadeira Regra do Impedimento”, como trabalho final da faculdade. Com o desejo de unir três áreas de que gostava — o esporte, a representatividade feminina e o resgaste histórico —, surgiu a ideia de realizar um trabalho voltado para o futebol feminino. Karine percebeu que, no Ceará, só se falava sobre futebol feminino a partir de 2008, e havia poucos registros da modalidade no século passado, diferentemente do que se tem do futebol masculino.

Em uma longa jornada para a obtenção de informações e produção do livro, Karine conversou com ex-jogadoras do time do Ferroviário do ano de 1983. Segundo ela, foi o momento mais impactante do trabalho, pois era confortante a emoção que as ex-atletas sentiam ao ver que seu trabalho estava finalmente sendo reconhecido. Além de ser uma obra de grandeza, que visa combater os olhares machistas sobre a área, o sentimento de valorização das mulheres que praticam o esporte foi o grande trunfo desse trabalho.

Na área profissional, Karine teve uma de suas primeiras experiências como repórter na Federação Cearense de Futebol. Foi lá onde chamou atenção e acabou sendo contratada, em 2019, para uma das grandes emissoras do estado: a TV Jangadeiro. Karine participava do programa Futebolês, junto de Jussie Cunha, Caio Costa, Anderson Azevedo e Danilo Queiroz.

Em janeiro de 2020, Karine alcançou uma marca histórica na TV aberta cearense, ao ser a primeira mulher a comentar uma partida de futebol televisionada. Ela foi a comentarista no empate em 0x0 entre Vitória e Fortaleza, pela Copa do Nordeste daquele ano. Apesar do grande feito, ela destaca o lado negativo dessa marca, alegando grande atraso quanto a transmissões feitas por mulheres, apenas em 2020.

Um importante ponto de sua carreira foi como repórter do Novo Basquete Brasil (NBB), principal liga de basquete do país. Karine recebeu o convite em outubro de 2019, trabalhando junto com Karol, sua amiga, como sua produtora, e permaneceu até o período de paralisação imposto pela pandemia de Covid-19. Ela celebrou o novo espaço que tinha para falar de basquete desde o encerramento do 5 Toques e espera retornar para a função quando os jogos do Basquete Cearense retornarem ao estado.

Karine Nascimento representa uma grande figura feminina no jornalismo esportivo cearense com apenas 24 anos. Sua obra “A Verdadeira Regra do Impedimento” é muitas vezes consultada e citada para trabalhos no campo do futebol feminino no estado e afins.

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Caio Salgueiro
EntreFios - tecendo narrativas

Estudante de 20 anos do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará. Apaixonado por futebol e basquete.