“A vida me fez Fortaleza e eu fiz do Fortaleza a minha vida”
Maria Helena Pimentel conversa sobre sua paixão pelo time do Pici, demonstrando o que o esporte pode significar na vida de alguém
Por João Neto
Nascida em Baturité, no Ceará, em 1962, Maria Helena Araújo Pimentel é a mais nova dos seis filhos de Maria Araújo e José Arimateia. Foi do pai que surgiu seu interesse por futebol, e foi sob sua influência que nasceu sua paixão pelo Fortaleza Esporte Clube.
Passou a frequentar estádios em 1978, quando se mudou para a capital cearense. Logo em seguida, casou-se, teve um filho e se divorciou. Morou em diversos bairros da capital alencarina, do Monte Castelo ao Conjunto Ceará. A única constância na sua vida era o carinho pelo time Fortaleza.
Foi nos anos 2000 que essa paixão chegou ao seu ápice. Embalada por uma geração vitoriosa do Fortaleza, Helena passou a ser uma figura vitalícia nos estádios. Esteve presente nos dois acessos do time do Pici à série A, em 2002 e 2004.
Vibrou pela grande vitória sobre o São Paulo, no Campeonato Brasileiro de 2005, o então campeão das Américas. Aquele gol do Clodoaldo é uma das memórias mais marcantes envolvendo o Fortaleza. “Nunca tinha visto o estádio tão lotado como naquele dia. Aquele gol foi bom demais, você devia ter visto o baixinho, fez a festa naquele jogo”, detalha.
Mesmo com o rebaixamento no ano posterior, seu comprometimento com o time continuou. Para ela, ir ao estádio fazia parte de um ritual social que ela adorava. “Gosto desse movimento, da multidão, da cantoria. É uma coisa linda de se ver”, diz.
Contudo, essa relação também teve seus momentos de crise. O Fortaleza caiu para a série C em 2009. Soma-se a isso o fato de Helena ter começado a cuidar da mãe integralmente depois de uma queda que a impossibilitou de andar sozinha. Foram dois anos longe dos estádios, longe do time do coração, como um casal que precisou dar um tempo na relação devido a problemas externos.
Mas onde existe amor verdadeiro, existe recomeço. Em 2012, ela voltou a frequentar os estádios, acompanhando o Leão do Pici em sua busca pelo tão sonhado retorno à Série B. Helena esteve presente em todos os jogos decisivos daquela saga. Oeste, Sampaio Corrêa, Macaé, Brasil de Pelotas, Juventude. Torceu, vibrou e chorou a cada eliminação.
“Quando eu saía do estádio, parecia que não existia alegria no mundo”, conta.
Mas ela foi perseverante, assim como seu time do coração. Foi em 2017 que o Fortaleza, enfim, se livrou do inferno da série C. Vendo pela televisão a grande atuação do goleiro Marcelo Boeck, decidiu que o nome de seu novo passarinho seria o sobrenome do arqueiro do Pici.
Contudo, esse mesmo período foi marcado por perdas na vida de Helena. A mãe e a irmã, Teresa Pimentel, falecem. Falar disso para ela é doloroso, seus olhos lacrimejam, o peso da solidão parece ser difícil de aguentar.
“A saudade é grande. Tem vezes que me sinto desorientada por estar só. Era a minha irmã que administrava as despesas da casa. Eu cuidava da mamãe, da limpeza e da comida”, detalha.
Apesar disso, ela conseguiu seguir em frente, e o Fortaleza teve um papel importante nisso. “Assistir aos jogos do Fortaleza hoje é o que me dá forças para continuar. É um orgulho imenso que tenho”.
Mas o amor dela não se restringe apenas ao Fortaleza. Seu filho João Paulo é outro motivo de orgulho. Fez o possível para que ele tivesse uma boa educação. Hoje, ele é mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Ele agora tá no doutorado, não vejo a hora de chamar de doutor”.
Hoje, o Fortaleza vive o auge de sua história, colecionando grandes feitos, sendo o mais recente a se classificar para a Libertadores da América. Já Helena também celebra uma conquista, a de ser avó do pequeno Johan.
“Esse vai ser Leão também”, garante.
Maria Helena tem uma trajetória marcada pelo amor ao time do coração, que se entrelaça em vários momentos da sua vida. É uma vida marcada por alegrias e tristezas, que é comum a qualquer torcedor de futebol. Não se pode ganhar sempre. Helena tem como seu alicerce o Fortaleza, e o alicerce do Fortaleza são esses torcedores que permanecem fiéis mesmo nos momentos mais difíceis.
“A vida me fez Fortaleza, e eu fiz do Fortaleza a minha vida”.