“A vida me fez Fortaleza e eu fiz do Fortaleza a minha vida”

João Neto
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readFeb 10, 2022

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Maria Helena Pimentel conversa sobre sua paixão pelo time do Pici, demonstrando o que o esporte pode significar na vida de alguém

Por João Neto

Maria Helena na Arena Castelão, na cidade de Fortaleza / Acervo Pessoal

Nascida em Baturité, no Ceará, em 1962, Maria Helena Araújo Pimentel é a mais nova dos seis filhos de Maria Araújo e José Arimateia. Foi do pai que surgiu seu interesse por futebol, e foi sob sua influência que nasceu sua paixão pelo Fortaleza Esporte Clube.

Passou a frequentar estádios em 1978, quando se mudou para a capital cearense. Logo em seguida, casou-se, teve um filho e se divorciou. Morou em diversos bairros da capital alencarina, do Monte Castelo ao Conjunto Ceará. A única constância na sua vida era o carinho pelo time Fortaleza.

Foi nos anos 2000 que essa paixão chegou ao seu ápice. Embalada por uma geração vitoriosa do Fortaleza, Helena passou a ser uma figura vitalícia nos estádios. Esteve presente nos dois acessos do time do Pici à série A, em 2002 e 2004.

Vibrou pela grande vitória sobre o São Paulo, no Campeonato Brasileiro de 2005, o então campeão das Américas. Aquele gol do Clodoaldo é uma das memórias mais marcantes envolvendo o Fortaleza. “Nunca tinha visto o estádio tão lotado como naquele dia. Aquele gol foi bom demais, você devia ter visto o baixinho, fez a festa naquele jogo”, detalha.

Mesmo com o rebaixamento no ano posterior, seu comprometimento com o time continuou. Para ela, ir ao estádio fazia parte de um ritual social que ela adorava. “Gosto desse movimento, da multidão, da cantoria. É uma coisa linda de se ver”, diz.

Contudo, essa relação também teve seus momentos de crise. O Fortaleza caiu para a série C em 2009. Soma-se a isso o fato de Helena ter começado a cuidar da mãe integralmente depois de uma queda que a impossibilitou de andar sozinha. Foram dois anos longe dos estádios, longe do time do coração, como um casal que precisou dar um tempo na relação devido a problemas externos.

Mas onde existe amor verdadeiro, existe recomeço. Em 2012, ela voltou a frequentar os estádios, acompanhando o Leão do Pici em sua busca pelo tão sonhado retorno à Série B. Helena esteve presente em todos os jogos decisivos daquela saga. Oeste, Sampaio Corrêa, Macaé, Brasil de Pelotas, Juventude. Torceu, vibrou e chorou a cada eliminação.

“Quando eu saía do estádio, parecia que não existia alegria no mundo”, conta.

Mas ela foi perseverante, assim como seu time do coração. Foi em 2017 que o Fortaleza, enfim, se livrou do inferno da série C. Vendo pela televisão a grande atuação do goleiro Marcelo Boeck, decidiu que o nome de seu novo passarinho seria o sobrenome do arqueiro do Pici.

Contudo, esse mesmo período foi marcado por perdas na vida de Helena. A mãe e a irmã, Teresa Pimentel, falecem. Falar disso para ela é doloroso, seus olhos lacrimejam, o peso da solidão parece ser difícil de aguentar.

“A saudade é grande. Tem vezes que me sinto desorientada por estar só. Era a minha irmã que administrava as despesas da casa. Eu cuidava da mamãe, da limpeza e da comida”, detalha.

Apesar disso, ela conseguiu seguir em frente, e o Fortaleza teve um papel importante nisso. “Assistir aos jogos do Fortaleza hoje é o que me dá forças para continuar. É um orgulho imenso que tenho”.

Mas o amor dela não se restringe apenas ao Fortaleza. Seu filho João Paulo é outro motivo de orgulho. Fez o possível para que ele tivesse uma boa educação. Hoje, ele é mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). “Ele agora tá no doutorado, não vejo a hora de chamar de doutor”.

Hoje, o Fortaleza vive o auge de sua história, colecionando grandes feitos, sendo o mais recente a se classificar para a Libertadores da América. Já Helena também celebra uma conquista, a de ser avó do pequeno Johan.

“Esse vai ser Leão também”, garante.

Maria Helena / Acervo Pessoal

Maria Helena tem uma trajetória marcada pelo amor ao time do coração, que se entrelaça em vários momentos da sua vida. É uma vida marcada por alegrias e tristezas, que é comum a qualquer torcedor de futebol. Não se pode ganhar sempre. Helena tem como seu alicerce o Fortaleza, e o alicerce do Fortaleza são esses torcedores que permanecem fiéis mesmo nos momentos mais difíceis.

“A vida me fez Fortaleza, e eu fiz do Fortaleza a minha vida”.

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