O ensino como forma de romper muros e estreitar laços entre os povos

Guilherme Azevedo
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 15, 2023

Com um sorriso estampado no rosto, o advogado e professor de mandarim Alexandre Lai me recebe no Instituto Confúcio da UFC para contar sua história de vida — suas inspirações, motivações e aspirações

Por Guilherme Azevedo

O advogado e professor de língua chinesa Alexandre Lai / Arquivo pessoal

Em casa, conversando com seus pais, ele atende por seu nome chinês, 赖逸哲, pronunciado como “Lai Yizhe”. Já no escritório ou em sala de aula, ele é o sorridente advogado e professor Alexandre Lai, nascido no município de Foz do Iguaçu, no Paraná, em 1993.

Seus pais, imigrantes chineses que buscavam no Brasil a chance de construir uma nova vida, mudaram-se para Fortaleza em 1995, encantados pelo clima, pelas praias e atraídos pela perspectiva de crescimento que viam na cidade.

Na capital cearense, o casal criou seus dois filhos e estabeleceu profundos vínculos com a cidade, onde moram até hoje. “Fortaleza sempre vai ter um lugar especial aqui, no meu coração, porque foi a cidade onde eu cresci e estabeleci vínculos […], é um lugar que eu posso chamar de lar mesmo”, considera.

Quando questionado sobre sua experiência de crescer sendo filho de imigrantes no Brasil, Lai revela: “O fato de sempre você estar em algum lugar e as pessoas terem a necessidade de perguntar de onde você vem, por mais que eu tenha nascido aqui, isso meio que corta um pouco daquele senso de pertencimento, e sempre levanta um pouco de questionamento — afinal, aonde eu pertenço?”.

Alexandre ressalta o caráter deletério do racismo, mas avalia que a percepção dos brasileiros acerca dos imigrantes da porção oriental da Ásia tende a ser positiva. “O Brasil já teve leis extremamente xenofóbicas contra orientais […], mas hoje as pessoas enxergam o povo oriental como um povo batalhador, inteligente”.

A criação bilíngue de Alexandre — falando mandarim em casa, com sua família; e aprendendo o português na escola — fez com que ele, desde cedo, se desse conta de situações abusivas impostas à sua família pelas dificuldades de seus pais com o português, que o levaram a se interessar pelo campo do direito, como forma de corrigir as injustiças sofridas por eles.

“Meus pais tinham um comércio no centro, um restaurante também, e eles batalharam muito porque eles não sabiam falar bem o português. Então eu enxergava certos desafios e dificuldades de eles entenderem algumas coisas, e às vezes precisando se sujeitar a certos abusos burocráticos, e aí eu pensei que, com o direito, eu pudesse ajudá-los”.

Foi nesse contexto que Alexandre ingressou, em 2010, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde se formou em 2014. Durante a graduação, começou a trabalhar como intérprete e tradutor de mandarim no Fórum da Justiça Federal, auxiliando chineses com dificuldade de comunicação no português em seus processos legais.

Com o trânsito e os contatos na comunidade chinesa de Fortaleza, ele passou a defender as demandas de outros cidadãos que tinham a mesma dificuldade com o idioma, e logo se especializou na área de imigração, onde atua até hoje. Nessa mesma época, Alexandre passou a ministrar aulas de língua chinesa em um curso particular, mas, com a pressão da monografia e do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acabou se afastando do ensino de línguas, que retomaria apenas em 2018.

Atualmente, Alexandre Lai ministra aulas particulares na plataforma online Virtus Idiomas e, com a pandemia de covid-19, em 2020, ele passou a integrar o quadro de professores do recém-fundado Instituto Confúcio da UFC, onde leciona desde então.

Indo para a sua sexta turma, ele se sente realizado por poder difundir a língua e a cultura chinesa no Brasil e revela que pretende seguir ministrando aulas no futuro. “Acho que, quanto mais as pessoas conhecerem o mandarim, maior e melhor vai ser o convívio entre os povos”.

“Sempre o ensino e a informação vão ser os meios para se quebrar preconceitos, barreiras, muros. Então, o intuito é continuar ensinando mandarim, ajudando as pessoas a compreenderem como é a China, como é que as pessoas podem interagir umas com as outras e melhorar ainda mais esse intercâmbio entre Brasil e China”.

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