Amor que supera obstáculos

Ian Araújo Magalhães
EntreFios - tecendo narrativas
2 min readApr 20, 2021

Maria Alice nasceu e foi criada na serra do Coité até os 12 anos, quando foi para a casa do irmão, em Fortaleza, a fim de terminar os estudos

Por Ian Magalhães

Minha avó e segunda mãe, Maria Alice / Imagem: Ian Magalhães

Com um olhar já cansado de uma longa recuperação e com um semblante emocionado, Maria Alice relembra sua vida de muitas alegrias, mas também de muitas dificuldades.

Nascida no alto da serra, em Coité Pedreiras, no Ceará, lugar pelo qual nutre enorme afeição até hoje, Alice viveu vida simples e tranquila. Seus pais, Antônio Luiz de Araújo e Raimunda Valdenora da Rocha, se tornaram seu alicerce e seu porto seguro para enfrentar o tempestuoso mar que é a vida.

Ainda muito nova, aos 12 anos, saiu dos braços de seus pais e foi para Fortaleza, com o objetivo de continuar seus estudos, onde foi acolhida por João, seu irmão mais velho, que acabara de se casar.

Ávida e insistente na busca para completar seu ensino médio, ela se mudou para a casa de sua madrinha, Quitéria. Dois anos depois, voltou para os braços do pai, que agora morava em Fortaleza, onde ficou até deslanchar para a vida adulta.

Ao terminar o ensino médio, Alice foi trabalhar no setor de contabilidade, do qual não saiu até sua aposentadoria, 26 anos depois. Nesse período, conheceu aquele que viria a ser seu marido e agressor. Do casamento, nasceram Maria do Socorro e Rachel, que foram refúgio e amparo durante os complicados anos do matrimônio.

Com felicidade e, ao mesmo tempo, lágrimas nos olhos, ela conta que já fazem 25 anos do divórcio. O fim de tantos anos conturbados deixou marcas em Alice. Com feridas ainda abertas, ela foi diagnosticada com depressão, mesmo após se livrar daquele que era seu maior pesadelo.

A cura para a doença chegou de maneira inesperada, mas foi acolhida do mesmo jeito que seria se fosse planejada. O milagre da vida, o nascimento do seu primeiro neto, o meu nascimento, preencheu o vazio com amor.

Agora, 20 anos depois, sentada no sofá da casa de sua filha mais nova, onde se recupera da Covid-19, Alice olha seu celular, tranquila, conversando com primas e amigas de longa data e cercada por seus netos, que agora são 4. Calada e um pouco introvertida, carrega em seu peito dores e saudades, de seu pai, de sua mãe, de amigos e amigas, de sua terra natal. Tristezas e desafios marcam sua passagem por este mundo, mas ela, mais do que ninguém, sabe que é o amor que supera obstáculos.

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