Os erros e acertos de André Jardine
[COMENTÁRIO] Mesmo com a medalha de ouro, o técnico da seleção brasileira masculina de futebol parece ter sentido o peso da final e de possíveis erros quanto às suas escolhas técnicas
Por Danrley Pascoal
Até a final contra a Espanha nas Olimpíadas de Tóquio, a seleção brasileira masculina de futebol havia conquistado seis medalhas no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos, sendo duas de bronze, três de prata e uma de ouro. Essa última só veio no Rio de Janeiro, no evento de 2016. Antes foram várias decepções. Até àquela conquista, o grupo de jogadores que viajava aos jogos sofria absurdamente por ser o “país do futebol” e não ter frequentado o lugar mais alto do pódio na competição.
Com a conquista de 2016, é notório que o peso do futebol e sua importância para o brasileiro fica apenas na torcida pela medalha para se posicionar bem no quadro de medalhas. Ainda mais pensando em um ambiente em que o futebol e os jogadores são tratados de forma diferenciada em relação aos outros atletas. gerando mais antipatia.
Com aporte da CBF e com atitudes administrativas que vão contra o espírito olímpico, cria-se uma imagem negativa que afasta a simpatia da torcida, que comemora mais um bronze de outro esporte que o ouro olímpico do futebol. Em relação ao esporte mais popular do Brasil, era incabível não ter o ouro, tamanha a nossa história na modalidade. Depois de vencer, hoje o torneio se mostra mais relevante para treinadores e atletas, que precisam se provar no cenário futebolístico.
Enfraquecido
Partindo da ideia de que a competição importa somente para treinador e jogadores, André Jardine sai enfraquecido da competição. Mesmo com o título, o técnico parece ter sentido o peso da final e de possíveis erros quanto às suas escolhas técnicas, que poderiam afetar seu futuro na profissão. E, por não escolher, quase que fez a escolha errada.
Durante os 90 minutos, Jardine não enxergou problemas de encaixe de jogo em relação a alguns jogadores, além do cansaço de outros. Problemas que só troca de peças resolveria, como resolveu na prorrogação. Se ele notou que estes atletas estavam atuando mal e não mexeu, apostou que o talento poderia resolver. Atitude perigosa em um torneio curto. Por experiência anteriores, ele deveria ter optado por colocar outros selecionáveis em campo, com melhores condições físicas e técnicas para conseguir o resultado no tempo normal.
Podendo fazer cinco alterações até o fim do segundo tempo, André Jardine só mexeu no início da prorrogação. Quando colocou Malcom, que marcou o gol que decidiu o jogo e deu a medalha de ouro para o Brasil, ficou nítido que, se a alteração tivesse sido feita antes da partida ir para a prorrogação, o gol teria saído durante os 90 minutos, já que a seleção espanhola já demonstrava cansaço, por vir de duas prorrogações nas quartas e nas semifinais. Jardine correu um risco desnecessário. Pela qualidade no nosso banco de reservas (mesmo nível dos titulares), não é plausível perder tempo esperando que um jogador resolva um campeonato num lance mágico, principalmente se esse atleta não é Pelé, Messi ou Cristiano Ronaldo.
O Brasil mereceu vencer. Jardine merece o título pelo bom trabalho à frente da seleção olímpica e pelo fato de ter perdido várias peças por conta da não liberação de jogadores por clubes. Mas a sensação que passa é que o título não o credencia para voos maiores. A possibilidade de treinar grandes clubes ainda passa por bons trabalhos em outros contextos e equipes.